Segunda-feira , 25 de Setembro DE 2006

Dos idos do sonho às kalendas do real

 

E quanto mais fundo cairmos, de mais fundo se levantam os alicerces de um novo mundo, de uma nova ordem… Do Outono se prepara a Primavera! Entra na janela da LUZ…

 

Procurar a escuridão que facilite o esquecimento dos limites duros e espremidos em que conduzimos – ou somos conduzidos – pelos meandros exigentes da existência; Encontrar o portal da luz dos sonhos que facilite lembrar que ainda é possível a direcção salubre da vida!

 

Adormecer para os maus-tratos do fracasso dos planos, para o corte das asas da esperança e do rumo do futuro; Afundar em sono profundo para ignorar o batelão de feridas das más surpresas e da traição do Homem; Anestesiar a consciência para suprimir os despertares da dor destilada pelo ódio e pela disputa dos pares; Perecer em vida para não sentir os tormentos dos engodos e dos desenganos do amor…

Crescemos tanto, construímos tantas ideais e tantos materiais. Tentamos apertar volumes imensos com braços tão curtos e arriscamos o desespero da desilusão pelas ambiciosas passadas dos nossos pés de barro, tão fragilmente expostos à desintegração.

 

E então, longe da vigília torpe, passear pelo quadro idílico do mundo querido, do mundo que desejamos para nós e para os outros. Ganhar a valentia do invicto e entrar na farda do pedreiro: Eu vou erguer este mundo, pedra a pedra, sonho a sonho!

 

Em cada prédio uma árvore… melhor, em cada árvore um lar! Afinal, podemos viver numa floresta – que não precisa ser encantada, só natural –, um bosque de tolerância, de solidariedade, de cooperação.

Adormecido nos teus olhos verdes, contemplo a inocência e a pureza com que nascemos. E se assim germinamos todos, porque caímos todos na tentação do maquiavelismo? Para quê crescer?

Talvez o segredo esteja no acarinhar da criança que em nós se fez e jamais morreu. Está apenas resguardada no jardim secreto que todos temos. Brinca ainda, protegida pelo exército de guardas pujantes e desconfiados que plantamos na entrada do portão do nosso EU.

Apartar as armas e escudos com que cumprimentamos o próximo, e substituir as couraças de defesa pela singela túnica da harmonia: Libertem os pirralhos alegres e espontâneos que têm abafados há demasiado tempo! Façamos, dos sonhos, um universo possível…

 

Mais do que ser infelizes com (o fracasso de) ambições desmedidas, devemos estar felizes com o que somos: aí tudo reside, aí tudo se decide…

 

XXV : IX : MMVI

Andarilhus “(º0º)”

música: The Smiths: There's a light that never goes out
publicado por ANDARILHUS às 08:27
Quarta-feira , 20 de Setembro DE 2006

Os Lugares do Nunca

 

                                    agualisa5.blogs.sapo.pt/arquivo/DESERTO.jpg

…do nunca sim, em definitivo, e do nunca não, assertivo…

 

Vai lambida a colher. Todo o suco escorrera para a goela. Sacia por fugazes segundos, para despertar furiosamente a secura da solidão.

Enfermo e sem voz, nas mãos do algoz, o agonizante afunda os dedos no solo fofo, um pouco à frente dos joelhos. Caído por terra, aguarda que o punhal talhe o ar e cumpra o curto espaço que desenha a linha ténue entre vida e morte. Tanto tempo para sentir o gume da arma de barro e o sol da tristeza, tão quente, a exaurir o suor do corpo, em gotas ascendentes e suspensas.

Misericórdia! Se não me regas o respirar, abafa-me de vez o suspiro…

Decisão, AFIRMAÇÃO… confronto, se necessário… Assume o encanto e liberta-me deste feitiço enfadonho e mordaz!

Empurrado do oásis para o deserto e do deserto para o oásis, preso a um elástico inquieto, este andarilho perde-se no espaço e no tempo: Ora corre feliz pelos orvalhados prados da maioridade; ora – em novo empurrão do elástico – é lançado para o exilo da ingénua puberdade…

Liberta-o da mordaça, escuta-o: talvez te ensine aquilo que nem imaginas que existe… ou já te esqueceste…

Continuarás a negar o seu afecto, sempre por três vezes, ao cantar do galo? Deixarás que suporte a cruz, solitário, pelo calvário da indiferença?

Nunca te vi assim, tolo, no meio da ponte! Se não firmas a vontade e ficas credor do que és, como és e para quem o és… vais extinguir-te nas mortalhas da terra erma e do esquecimento.

E como tudo se olvida ao despertar, segue a sapiência dos heróis, mas ingere o caldo da vivência comum dos anónimos. E logo, humedecida a garganta, afagas por mais alguns segundos o estômago da felicidade.

E lá fica o punhal a pairar no ar, aguardando a ordem que vais adiando… ainda com esperança… de um novo amanhecer…

 

E nunca foste, nunca serás o que nunca quiseste ser!

 

XX : IX : MMVI

Andarilhus

música: Rose of Avalanche: "Dreamland"
publicado por ANDARILHUS às 08:34
Terça-feira , 19 de Setembro DE 2006

Vox Populi

 

A voz do povo sobre a soberba do povo. Eu existo na diversidade!

Não sou simples; denuncio a minha complexidade!

E, na diferença, aplico-me em fazer com que me entendam longe da normalidade. Prostrado, confronto-me com um esforço inglório e dirimido em vão.

 

Cruelmente, não raramente, apontam-me o dedo da desconfiança. Atiram as minhas palavras para a fogueira das mentiras proscritas. A sinceridade e a dedicação no expor os sentimentos de forma nobre e transparente é tida, nesta era, como obra do diabo e do Homem manipulador.

Quando vão acreditar em mim?! O meu verbo não é pauta de obra de dramaturgo; é água cristalina e imaculada da nascente pura do meu SER!!! Arrelia-me que despejem as minhas ideias no crivo dos preconceitos e nas formas da vulgaridade costumeira! Raios, deixem-me ser original e permitam, por uma vez, que o que vos digo complete a viagem dos ouvidos ao entendimento!

Porque só reconhecem o preto e o branco? Porque não admitem a existência de infinitas tonalidades de cinza entre os extremos?

 

Há dias que não são noites, mas arrastam as suas vestes negras. Há dias em que o SOL aparece, mas não se vê (os olhos continuam na escuridão).

Há semanas que se arrastam sem fim, para desespero de quem as sente.

 

Ó desgraça, que nem tu – interlocutora do coração – me escutas ou dás tento às palavras sentidas que por ti expiro…

Talvez, seja altura da vindima dos cachos do fingimento, da simulação e do trato artificial… a outra solução possível? – A LOUCURA!...

Turba de surdos…

 

XIX : IX : MMVI

Andarilhus “(º0º)”

Aura:
música: U2 (Bono Vox): "ONE"
publicado por ANDARILHUS às 08:26
Quinta-feira , 07 de Setembro DE 2006

Desfazer o Mundo

Grupo de teatro Fora do Sério

“à barca, à barca, que se faz tarde!!”

Romper o drama com um novo capítulo…

 

Acordei cedo… tão cedo que surpreendi o Sol a espreitar do outro lado do relevo.

Finalmente acordara cedo, e pudera assim ver as verdades que acontecem antes do mundo despertar. Afinal a natureza ainda existe, o silêncio e a paz também. Ainda não correm os rios de suor, ainda não se esbarram os corpos apressados. Como é bom…

Valeu a pena desacelerar e descer do comboio da rotina.

Ontem, esqueceram-se de me dar a dose de sedativo que inibe a própria vontade; esqueceram-se de me banhar nas águas da propaganda melancólica e dominante.

Erro fatal! Não me fecharam a jaula, fugi! E já fugi tarde… mas foi para acordar cedo…

Agora, aqui, no sossego da antecâmara do reboliço já consigo pensar, já consigo encontrar um propósito para além do directivamente definido: simplesmente, formatam-nos os dias e dizem-nos que temos de caber – à justa! – neles.

A partir de hoje, vou acordar cedo todos os dias! Assim, saberei que há outra via e quando chegada a hora dos outros acordarem e com eles partilhar o espaço e o tempo comum do mesmo de sempre, passarei a palavra e tentarei converter gente cansada para o acordar cedo!

E, se granjear força suficiente, darei refúgio à ambição dos dias se completarem sempre SÓ em tempo do acordar cedo!

Bem, já montam o palco para as cenas do mesmo teatro. Por ora, vou vestir a fantasia que a produção preparou e começar o ensaio com os outros ainda ensonados actores… os espectadores aguardam… mas, amanhã, acordo novamente cedo!

Experimentem ser madrugadores…

 

VII : IX : MMVI

Andarilhus

“(º0º)”

 

Aura:
música: And Also the Trees: Impulse of Man
publicado por ANDARILHUS às 08:43
Terça-feira , 05 de Setembro DE 2006

Ósculo dEI

O que é o Amor? Ou simplesmente, ele é (existe)? Eu não acredito (tenho-o como as bruxas), mas que ele existe, existe… em múltiplas formas!

 

Começamos nas nuvens, onde não podíamos construir castelos… imaginávamos as suas ameias, mas não tínhamos espaço para as fixar.

 

Entrei em ti, sem nunca te tocar

Tomei teu ser sem nunca acontecer

Tive-te assim, para além do amar

Tenho tanto, sem poder querer!

 

Descemos à praia e, aí, lançámos a fortaleza com um singular beijo, com gosto de primeira pedra. E logo cresceu robusta a cerca.

 

Já tenho bússola para teu ser

Já tenho mapa de teu corpo, com norte;

Não domino o destino, pelo que acontecer

Mas, sem ti, é certo definhar de volta à morte.

 

Todavia, vivíamos na solidão da vastidão virgem do nosso mundo, escondidos do dia e entregues à noite da notícia.

 

Neste dia de estrelas diversas

A sorte seria atenta e amiga

Se, à noite, permitisse perder-me

Em conversas, amor e carícias contigo!

 

O sonho mantinha, reservada, a visão próxima das nuvens, sobre nós. Com vontade e persistência ergueríamos os muros até lá e então espalharíamos balcões com jardins dos mais belos e odoríficos exemplares florais. Seríamos cicerones das festas primaveris e dos bailes nas florestas encantadas de Pan e das diabruras de Cupido.

Faltava-nos o beijo de dEUS, o salvo-conduto que nos imunizasse contra o mau-olhado e a censura.

 

Quando sopra o vento

Em choro, por teu ouvido

É a voz do meu lamento...

O sofrer de saudade sentido!

 

Mantivemos a barca sobre o crepúsculo mareado da alvorada de cada dia. Uns mais calmos e em sabedoria; outros mais intransigentes no esforço da mudança.

E seguimos o rumo da consciência e do querer… bastou promover o coração a guia. E cada vez mais, mais próximos estávamos do reino das nuvens. Estas já se tocavam com o afago dos dedos do carinho!

 

Derrubam-se os muros

Do lamento e solidão

Caem os medos escuros

O Sol impõe-se em cintilação

 

Entre os nenúfares do cÉU, as ninfas do rio dourado espreitavam com o olhar doce de quem espera por nós. Assim, sucumbimos ao arrebatador e magnético encanto supremo que nos faz esquecer os pesos e os agravos que deixamos ao nível do solo da cidadela.

 

dEUS enviara o ósculo aguardado: dou-te o que sou e tu aceitas como sou; entregas-me o que és e só quero o que podes ser… somos agora um todo agregado e unido pela ternura, carinho e compreensão…

Estamos nas nuvens e temos o nosso jovem castelo…

ERGAMOS, agora, UM REINO ENTRE AS ESTRELAS!

 

Eu estou aqui!...

Andarilhus

V : IX : MMVI

“(º0º)”

 

Aura:
música: The Mission: Love me to Death
publicado por ANDARILHUS às 08:36

BI

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