Quarta-feira , 30 de Maio DE 2007

Derivas

Pitões de Júnias

 

Quantos delírios no dorso da realidade…

 

Contar as gotas de chuva grisalha com um ábaco rouco de mecanismo remoto e sem controlo, enquanto a rosa-dos-ventos roda no furacão de pensamentos colhidos ainda em verde, de imaturos e não de esperança. O Norte bloqueou e não há estrela que o desperte de teimoso receio que a ampulheta recomece empedernida contagem do passar das horas lesmas.

Como seria bom que o astrolábio apontasse o regresso a casa. Enevoava as janelas da aborrecida convivência, plantava silvado espesso na porta do contacto e perdia a chave da comunicação em hera frondosa…. Derreter os sais de prata das fotografias que me questionam, desmanchar os objectos que me falam dos segredos, espremer as dimensões dos espaços que me trazem os tempos… que grande alívio seria…

Quimeras vãs. Retrai a mão da ilusão com que emaranhas o já revolto cabelo! De que te serve eliminar estas impertinentes presenças, sufocantes dos sentidos, se já existe tudo extrapolado dentro da tua consciência? Doido…

E se vestisses a camisola da alma pelo inverso? Talvez ganhasses a prenda da superstição? Imbecil…

Entre aguaceiros, arremessas as pérolas a palácios e tens a percepção do burro sobre os suínos. Entreténs-te em afagar carraças com cães parasitários nas orelhas; Divertes-te em aconchegar no colo pulgas infestadas por gatos famintos.

E os prédios são tão altos que sugam de imediato a humidade das nuvens. Tudo em baixo morre ressequido. A sede! A sede pelos sons do coliseu romano é tão desesperada que se morre sem se entrar em combate. O gládio sangra de ferida oxidada: o corpo espetou-lhe forte golpe… E se a cólera se inquilina na casa, logo a paz fica inquinada e procura nova morada, em penitência de exílio.

Tens remos mas não tens barca; és conVINCENTE, mas sem aGILidade para te fazeres ao mar dos céus e dos infernos, pelos teatros de gente que nada representa. Tens um cartão a desempenhar, pintado por tintas de ferro e ocre, manchado de irreverência e insensatez. Intrepidez a mais, pedrês cacarejado inoportuno pelos becos dos dosséis de camas de pesadelo. Os sonhos, esses, quedam-se junto ao bacio, na solitária da mesinha de cabeceira… que bafio sobre a poeira e enxofre da Primavera que não entra em luz, decididamente, sobre os bosques mais recalcados do ser.

E a cada osso quebrado, um santuário de gesso; a cada esfacelar de carne, uma gaze suave; a cada dente abandonado, uma ponte de passagem. Remendos e ataduras tudo vão segurando. Azeite e sebo vão untando os rolamentos da fortuna e abastecendo as candeias do caminho.

Os sons seguem escuros e as luzes retumbam em silêncio. O palato cansou-se de saborear os espirituosos odores do vinho casto.

A cada flash da lanterna mágica mudam-se as cenas, sem aviso preventivo. No teu cartão canelado e esmurrado vezes sem conta, tu sintonizas nova rádio a cada mudança de época do destino. Mas, não sucumbes. Sobrevives no teu mundo, na singela existência de ter tudo no quase nada… Tens-te a ti! Pelo menos para contares as gotas de chuva grisalha com um ábaco rouco…

 

Cada gota de chuva uma pessoa. Podem ser frias e amargas, mas também alegres e inspiradoras… nas contas finais, confrontaremos os saldos…

 

Andarilhus “(ºvº)”

XXX : V : MMVII

música: El Último de La Fila: El Loco de la Calle
publicado por ANDARILHUS às 08:07
Segunda-feira , 21 de Maio DE 2007

Devotio

http://marius70.no.sapo.pt/augustoeosdeuses.jpg

 

Para aqueles a quem devo e entrego o que sou, designo em cerimónia um ex-voto pela graça que me concedem…

 

 

Não quero ser noite, para ti…

Nem tão pouco, dia;

Não quero ser perto, para vós,

E muito menos, longe!

 

Não quero que me sintas presente,

E, decididamente, jamais ausente;

Não quero ser motivo de vossa lembrança,

E, ostensivamente, nunca razão de esquecimento…

 

Não quero ser em ti atomizado em matéria nem ideia,

Não vos quero ser marco de espaço ou de tempo.

 

Quero ser sempre aqui,

Sempre agora,

Sem fobia ou prisão!

 

Arvorar a espontânea decisão,

Arvorar a singular dimensão,

De me acamar em teu corpo,

Espreguiçar-me em nosso pensamento,

E ser de vosso coração paciente!

 

E no nada, tudo e tanto se pode querer…

 

Andarilhus “(ºvº)”

XXI : V : MMVII

música: REM: The One I Love
publicado por ANDARILHUS às 08:40
Quinta-feira , 10 de Maio DE 2007

A Revolta dos Sonhos

http://sulanorte.blogs.sapo.pt/arquivo/sonho.jpg

 

A desilusão.

Quando batemos de frente e sem amortecedor na realidade, o choque é desastroso para quem embala tanto os sonhos.

De noviço se começa a planear o mundo. Da fantasia de gaiato vemo-nos dentro da mais bela magia que nos acalenta as visões futuras e despreocupadas. E crescemos nelas e para elas…

Construímos uma casa como a imaginamos e deitam-na abaixo... Construímos uma mais modesta e rebentam com ela… Construímos uma de palha e pegam-lhe fogo… É mesmo no relento, exposto aos astros da sorte da crua realidade que deves pernoitar a tua imaginação. Apostamos forte no início mas o jogo obriga-nos a baixar a fasquia.

Os sonhos primordiais – os mais antigos e de natura – revoltam-se e, como anjos caídos, interpelam a sabedoria do criador. Desprendem-se do carinho e da resistência. Tombam em cachos, de expectativa em expectativa, por patamares de desacreditada esperança, cada vez mais minguados e estreitos.

E no fundo, bem no buraco da despedida, perdem em definitivo a áurea de luz das asas brancas e o sorriso do pensamento solto pelos mares da aventura. São sonhos que se transfiguram em demónios da consciência, impondo-se como predadores de novos sonhos. Devastam e assolam os panorâmicos vales do ideal com pesados medos de novos fracassos, novas desilusões. O ideal pode ser utopia, mas não há nada que nos ampare a decepção do sonho, quando se revela que o ideal não pode ser cumprido.

Os sonhos perdidos lançam a sombra e ferem a luz. Sombras para o que arde em sois de negro. Revoltam-se, quando novos sonhos se assomam à vontade do criador. Os anjos caídos não gostaram da criação do Homem; os sonhos veteranos, não substanciados, revelam-se contra a imprudência de novos projectos.

E quando cai o criador?! Ele cai com os sonhos… As lágrimas do anjo noviço, de asas chamuscadas, em corrente pelo pescoço franzido que orienta a cabeça para cima, após a queda flamejante dos ninhos do céu. Vai dormir ao relento…

 

agora, apetecia-me adormecer e só acordar quando renascesse a sonhar…

 

Andarilhus “(ªVª)”

X : V : MMVII

música: Mission: Dream On
publicado por ANDARILHUS às 08:40
Sábado , 05 de Maio DE 2007

Alma Mater

http://ofeliazinha.no.sapo.pt/imagens/m1.jpg

Mãe (tu és...)

 

Uma gota de orvalho,

Um pingo de mel,

Um afago de vento:

A manta de meu agasalho;

O poema em meu papel;

O sol em meu dia cinzento!

 

Um abrigo em temporal,

Uma nau forte em mar bravio,

Um céu calmo para refugio do olhar:

A minha tenacidade contra a tentação do mal;

A mão que me resgate de afogamento em conspurcado rio;

A voz que me embala em melodia de encantar.

 

Uma vontade experiente e orientadora,

Um saber vernáculo em capítulos de vida,

Uma prudência atenta e deveras calejada:

O meu pedagogo servil e paciente, a cada hora;

O exemplo que me agiganta na lida;

O livro que me faz a existência amada.

 

Um castigo que se ajusta,

Uma educação que prepara,

Uma reprimenda que desperta:

O correctivo que me alinha e nada custa;

A minha árvore de valores, de estima cara;

O meu farol de moral, sempre alerta…

 

Não me destes só beijos, mãe… destes e dás, beijos de saber, beijos que sabem bem e transmitem o bem. Mesmo nas tuas limitações eruditas, ensinaste-me bem… ensinaste-me o principal: o estar na vida, com respeito por tudo o que a constitui!

Obrigado!

 

JPópulo

VI : V :MMVII

Andarilhus “(ª0ª)”

V : V : MMVII

música: Joy Division: Heart & Soul
publicado por ANDARILHUS às 19:40
Terça-feira , 01 de Maio DE 2007

Caixa de Pandora

http://golfinhu2.weblog.com.pt/arquivo/caixa%20de%20pandora.bmp

 

As esperanças, o destino, as memórias, os nossos comportamentos e decisões a cada instante da vigília a cada flash do sonho, no caldo mais inóspito, cozidos a frio em maciço caldeirão de três pernas, sobre o fogo do tempo, a insuflação da sorte e o oxigénio do espaço.

Abrimos a Caixa de Pandora, libertamos os profetas do vindouro e os fantasmas dos idos? E o que fazemos com o saber do entretanto?

 

“Eterno Retorno

 

Forço o olhar pela vidraça do nevoeiro,

Empurro tímidos passos pela penumbra da ponte.

Aprumo os ouvidos em esforço derradeiro

Na busca acanhada dos odores do horizonte.

 

Mas, em frente, só um reflexo espelhado.

Escorrego e caio no mesmo labirinto.

Concentro-me nas vozes que atrás, em chamado,

Convidam a saborear o passado que desminto...

 

MM

J. Pópulo”

 

REFLEXÕES…

 

Andarilhus “(ªVª)”

II : V : MMVII

música: And Also The Trees: Gone...
publicado por ANDARILHUS às 22:57

BI

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