Terça-feira , 28 de Julho DE 2009

Anátema

http://www.fecalface.com/artists/shawn_barber/anathema.jpg

 

 

Lívido, moribundo,

Albarda pungente

Sobre o costado

De perfil transparente,

Escorraçado pela sua gente

Odre,

Mal amado

Esguichado de cuspo

Podre,

Na alma violado,

Nos sonhos mutilado.

Carrega o ódio,

Não o seu, o de tantos,

O de todos!

Reteso no nó górdio

Da corda da forca

Esticada por mão

Não sua, a de tantos,

A de todos…

 

Humilde, aceita,

Mas, lá bem no centro do eu,

Não quer esta missão,

Este trabalho,

De carregar o mal

Da Terra e do Céu.

Esconde-se, em agasalho,

Dentro do coração,

Arrasta-se sob os fardos

Não os seus, os de tantos,

Os de todos,

Por um ideal…

 

A vergasta

Relampeja no ar

E ele continua a sonhar

Não o seu,

Mas o sonho de tantos,

De todos!!!!

Daqueles que o flagelam

Pelo dever sentido de (se auto) aniquilar

A alma nobre,

O sonho belo

… De amar.

 

Liberta-te da prisão

Do desvario do Homem,

Desgraçado!

Dá rasgão à albarda:

Tomba pelo chão

Os pesos, as penas,

Tamanha opressão!

Eles não te merecem.

Só tu cinges

O beijo da paixão…

 

Andarilhus

XXVIII : VII : MMIX

 

publicado por ANDARILHUS às 17:55
Segunda-feira , 20 de Julho DE 2009

Mortes

 

http://vilaalianca.files.wordpress.com/2009/02/morte.jpg

 

Caminha…

Caminha…

Deambula com a alma arrastada,

Despojada,

Presa pelos cravos da tua cruz de plástico,

Do teu crucifixo de latão,

Enforcado no rosário da promessa

Da eternidade

Da fraternidade.

(A aura do inocente…)

 

Avança…

Avança…

Aguardo-te agora

Entre os teus estigmas,

Nos teus limites,

Sempre, a todo o ocaso.

Sou o teu reflexo estático,

Cinzento, sem sentidos,

Sem estrebuchar

Descarnado, esviscerado,

De ossos nus,

Lambidos pela corrosão salina.

Já o sabes: eu sou a tua fuga da miséria,

Da vida!

(Desfalecimento do perplexo…)

 

Entrega-te!

Abraça-me em beijo frio

Dou-te a paz, a minha paz,

Devolvo-te a ignorância, a indiferença.

Recebe o grou da apatia imortal,

Acolhe o grifo do esquecimento.

Entra em meu rebanho,

Transumante,

Entre os pastos da servidão

E os alfobres de mel da escuridão…

Descansa do mundo que vês,

Mas não crês…

Repousa…

Repousa…

 

… Mais um passo

Outro mais…

Tu conheces-me

Como a Sombra

Como manto de terra fria

Como último refúgio,

Despojado

Das tuas certezas, dos teus horizontes

No gume de um ferro

Na escarpa de delírio afiado

Na mudez cega do cercado.

(Vertigem do incrédulo…)

 

Entra…

Escava…

Em perdidas sepulturas

Dos mil padecimentos

Dos mil falecimentos.

Então…

Elevo-te ao prazer

De prescindir sentir,

Ergo-te na lasciva

De escusar afecto,

Levanto-te na devassa

De enjeitar a vontade!

Carrego-te em triunfo

Ao vórtice da sensualidade do vazio…

(Travessia do indigente)

 

Entrega-te!

Abraça-me em beijo frio

Dou-te a paz, a minha paz,

Devolvo-te a ignorância, a indiferença.

Recebe o grou da apatia imortal,

Acolhe o grifo do esquecimento.

Entra em meu rebanho,

Transumante,

Entre os pastos da servidão

E os alfobres de mel da escuridão…

Descansa do mundo que vês,

Mas não crês…

Repousa…

Repousa…

 

Vem, sou a tua salvação,

Sou as (tuas) Mortes!

 

Andarilhus

XXI : VII : MMIX

publicado por ANDARILHUS às 23:57
Sexta-feira , 10 de Julho DE 2009

Metamorfose

 

http://conjectura.files.wordpress.com/2009/03/metamorfose.jpg

 

 

E se o meu mar se encolher,

Corado, tal rosto de sal,

Ao aceno ainda longe,

De teus braços de sereia,

Ciprestes de cascatas brandas,

Logo, em maré vaza, se abrirá a discorrer,

Os seus segredos de areia,

Revelando o limbo de comungada foz,

Quando em mim decidas mergulhar,

Profunda, com teu sorriso fatal,

Como se eu fosse

Murmúrio de búzio

Pronto a ressoar

Que eu e tu, somos nós…

 

E se o meu peito se estender

Cheio, tal relevo de coral,

Ao teu pedido de aconchegar,

Enxugada pelo conduzir correnteza

Do rio que trazes em fortuna,

Logo, em respirar forte, se destapará servil

A praia de seda, tua alcova, teu leito

Onde teus braços de sereia,

Catedrais do querer perdurar,

Embalam as palmas dos céus mareados

Como se eu fosse

Zumbido de esperança

Ansioso a vociferar

Que o eu e o tu já não existem…

Somos nós!

 

E se os meus olhos marejarem

Nublados, tais pedras sem tibieza,

Ao toque envenenado do desencanto,

Dos rumores que chegam além das margens,

De feitiços e esconjuros sobre a vida,

Logo, em verde aquoso, se irão descerrar

Em demanda da medicina e repouso

De teus braços de sereia,

Ventos amainados de panaceia,

Refúgio dos martírios tempestuosos,

Como se fosses

Esteio de certeza

Basalto escrito de Lei

Que eu e tu já não somos nós,

Somos, só… Somos a mesma voz...

 

Andarilhus

X : VII : MMIX

publicado por ANDARILHUS às 18:12

BI

pesquisar

 

Julho 2009

D
S
T
Q
Q
S
S
1
2
3
4
5
6
7
8
9
11
12
13
14
15
16
17
18
19
21
22
23
24
25
26
27
29
30
31

posts recentes

últ. comentários

  • Cara Otília Martel,agradeço a visita, a saudação a...
  • Há anos que aqui não entrava. Ou antes, tinha perd...
  • Obrigado!Depois, publicarei os dados/relatos das j...

mais comentados

Tombo

Visitas

Viagens

Chegar-se à frente

subscrever feeds

blogs SAPO


Universidade de Aveiro