Mortes
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Caminha…
Caminha…
Deambula com a alma arrastada,
Despojada,
Presa pelos cravos da tua cruz de plástico,
Do teu crucifixo de latão,
Enforcado no rosário da promessa
Da eternidade
Da fraternidade.
(A aura do inocente…)
Avança…
Avança…
Aguardo-te agora
Entre os teus estigmas,
Nos teus limites,
Sempre, a todo o ocaso.
Sou o teu reflexo estático,
Cinzento, sem sentidos,
Sem estrebuchar
Descarnado, esviscerado,
De ossos nus,
Lambidos pela corrosão salina.
Já o sabes: eu sou a tua fuga da miséria,
Da vida!
(Desfalecimento do perplexo…)
Entrega-te!
Abraça-me em beijo frio
Dou-te a paz, a minha paz,
Devolvo-te a ignorância, a indiferença.
Recebe o grou da apatia imortal,
Acolhe o grifo do esquecimento.
Entra em meu rebanho,
Transumante,
Entre os pastos da servidão
E os alfobres de mel da escuridão…
Descansa do mundo que vês,
Mas não crês…
Repousa…
Repousa…
… Mais um passo
Outro mais…
Tu conheces-me
Como a Sombra
Como manto de terra fria
Como último refúgio,
Despojado
Das tuas certezas, dos teus horizontes
No gume de um ferro
Na escarpa de delírio afiado
Na mudez cega do cercado.
(Vertigem do incrédulo…)
Entra…
Escava…
Em perdidas sepulturas
Dos mil padecimentos
Dos mil falecimentos.
Então…
Elevo-te ao prazer
De prescindir sentir,
Ergo-te na lasciva
De escusar afecto,
Levanto-te na devassa
De enjeitar a vontade!
Carrego-te em triunfo
Ao vórtice da sensualidade do vazio…
(Travessia do indigente)
Entrega-te!
Abraça-me em beijo frio
Dou-te a paz, a minha paz,
Devolvo-te a ignorância, a indiferença.
Recebe o grou da apatia imortal,
Acolhe o grifo do esquecimento.
Entra em meu rebanho,
Transumante,
Entre os pastos da servidão
E os alfobres de mel da escuridão…
Descansa do mundo que vês,
Mas não crês…
Repousa…
Repousa…
Vem, sou a tua salvação,
Sou as (tuas) Mortes!
Andarilhus
XXI : VII : MMIX