Mortes

 

http://vilaalianca.files.wordpress.com/2009/02/morte.jpg

 

Caminha…

Caminha…

Deambula com a alma arrastada,

Despojada,

Presa pelos cravos da tua cruz de plástico,

Do teu crucifixo de latão,

Enforcado no rosário da promessa

Da eternidade

Da fraternidade.

(A aura do inocente…)

 

Avança…

Avança…

Aguardo-te agora

Entre os teus estigmas,

Nos teus limites,

Sempre, a todo o ocaso.

Sou o teu reflexo estático,

Cinzento, sem sentidos,

Sem estrebuchar

Descarnado, esviscerado,

De ossos nus,

Lambidos pela corrosão salina.

Já o sabes: eu sou a tua fuga da miséria,

Da vida!

(Desfalecimento do perplexo…)

 

Entrega-te!

Abraça-me em beijo frio

Dou-te a paz, a minha paz,

Devolvo-te a ignorância, a indiferença.

Recebe o grou da apatia imortal,

Acolhe o grifo do esquecimento.

Entra em meu rebanho,

Transumante,

Entre os pastos da servidão

E os alfobres de mel da escuridão…

Descansa do mundo que vês,

Mas não crês…

Repousa…

Repousa…

 

… Mais um passo

Outro mais…

Tu conheces-me

Como a Sombra

Como manto de terra fria

Como último refúgio,

Despojado

Das tuas certezas, dos teus horizontes

No gume de um ferro

Na escarpa de delírio afiado

Na mudez cega do cercado.

(Vertigem do incrédulo…)

 

Entra…

Escava…

Em perdidas sepulturas

Dos mil padecimentos

Dos mil falecimentos.

Então…

Elevo-te ao prazer

De prescindir sentir,

Ergo-te na lasciva

De escusar afecto,

Levanto-te na devassa

De enjeitar a vontade!

Carrego-te em triunfo

Ao vórtice da sensualidade do vazio…

(Travessia do indigente)

 

Entrega-te!

Abraça-me em beijo frio

Dou-te a paz, a minha paz,

Devolvo-te a ignorância, a indiferença.

Recebe o grou da apatia imortal,

Acolhe o grifo do esquecimento.

Entra em meu rebanho,

Transumante,

Entre os pastos da servidão

E os alfobres de mel da escuridão…

Descansa do mundo que vês,

Mas não crês…

Repousa…

Repousa…

 

Vem, sou a tua salvação,

Sou as (tuas) Mortes!

 

Andarilhus

XXI : VII : MMIX

publicado por ANDARILHUS às 23:57