Sexta-feira , 23 de Dezembro DE 2016

Cantiga de amigo (da sina pela vida)

PRESÉPIO 3.jpg

 

https://1.bp.blogspot.com/-ojIwN_YDeoA/VljyA1hJYnI/AAAAAAAADS4/2sfwaVIykJc/s1600/PRES%25C3%2589PIO%2B3.jpg

 

Senhora, diz-me em que águas

Lavas a tua áurea de frescura serena,

Como coras os rostos grisalhos da tristeza,

Em que regato carpido enxaguas as mágoas…

Diz-me, quando, assim ferida de agrura e pena,

Em que pensas, em afoita e fria destreza,

Quando o próprio pensamento

Se derriba pelos cardos da dor;

Como sossegas a aflição,

E amordaças o desgosto… diz-me…

 

Quero eu contigo aprender,

Para procurar uma luz,

Uma pequena luz,

Por ténue que seja

... mas persistente.

Um farol que me guie

Neste mar interminável

Em que cumpro a minha jornada;

Um brilho que me atraia

Como borboleta

Para repousante alívio...

 

Diz-me, Senhora,

Como posso avistar na água espelhada,

Assim, lavada áurea de frescura serena?

 

Com esta minha sina,

Por vezes corro

Atrás do pirilampo que me seduz.

E, por esperançados momentos,

Vejo quem me conduz,

Para logo desaparecer…

Quanto mais me aproximo

Mais se apagam

Os efémeros fulgores

Dos seus despertares.

A escuridão tropeça-me os passos,

Continuo a divagar

Sem acertar com o meu coração.

… Careço de amparo, senhora…

 

“Peregrino, não te deixes ofuscar

Pelos deslumbres etéreos

Das auroras boreais

Dos céus dos Homens;

Antes, atenta ao rumo puro, traçado

Pela mais singela das estrelas,

Pois é com gestos pequenos,

Feitios simples,

E condutas genuínas,

Que se lavra a minha áurea de frescura serena;

A verdade da vida… humana.

Procura a estrela, e segue-a…”

 

FELIZ NATAL!

 

Andarilhus

XXIII : XII : MMXVI

publicado por ANDARILHUS às 17:57
Sexta-feira , 02 de Dezembro DE 2016

Por Ti Seguirei… (2.16)

i503799.jpg

http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/85/imagens/i503799.jpg

 

… em continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/por-ti-seguirei-2-15-76136

 

Manobraram rapidamente para aproximarem novamente as amuradas. A maioria dos capazes saltaram para o navio onde se desenrolava a contenda.

Os romanos concentravam cada vez mais efetivos no centro da refrega, enquanto os cilícios se empenhavam estoicamente em conter a maré de inimigos que assomava da recém-chegada galera, atravessando as pranchas. Zlatan liderava a contra-ofensiva, dando o exemplo. Estava de tal modo engalfinhado na liça que avançou demasiado para o interior das posições inimigas, acabando por ficar cercado, na companhia de uma mão cheia dos seus seguidores.

Ainda longe, Tongídio apercebeu-se do perigo. Chamou os seus e envolveu-se na peleja, procurando resgatar o salteador dos mares.

- Zlaton, aguenta! Estamos a chegar! – gritou-lhe.

O pirata rodou a cabeça e, apesar de acometido por vários adversários, ao ver os iberos a carregar sobre os latinos, sorriu, dando um grito de regozijo que serviu de incentivo, propagando-se pelas suas linhas.

Com as falcatas sempre cálidas pelo sangue derramado, os iberos lograram libertar Zlaton do bloqueio romano, assim como amoleceram o ímpeto ofensivo do inimigo. Tongídio guiava agora os seus guerreiros para próximo das pontes que faziam a passagem entre as galeras romanas e que permitiam a constante entrada de reforços dos itálicos.

- Espera Tongídio! Tenho uma arma mais eficaz para afastar esta praga de uniformes pomposos. Tragam as talhas de barro lacradas que estão amarradas à base do mastro. Escolhe também dois dos vossos mais hábeis na utilização da funda. Já te mostrarei qual é a minha ideia.

- Assim seja, Zlaton: irá Caturnino buscar os potes que pedes. – apontou.

Os grandes recipientes de barro chegaram célere junto à frente de combate. Logo dois iberos – pastores em tempos de paz – muniram as fundas e aguardaram por ordens.

- Os potes têm uma surpresa espinhosa para os romanos. Quem tiver o braço forte deve-os lançar para a galera de lá. Quando estiverem ainda no ar, à altura dos ombros do inimigo, os fundibulários fazem-lhe pontaria. Entretanto, vamos fazer uma investida fulgurosa para provocar o recuo dos romanos. Atrás de nós, aproximem-se o que vos for possível, para executar o plano.

Um lusitano e um kaledónio foram incumbidos do arremesso. Assim que conseguida uma boa posição, uma após outra, 4 talhas foram lançadas e prontamente apedrejadas pelos exímios braços que giraram as fundas.

Executadas as ordens de Zlaton, não perceberam de imediato o que se passava na trirreme romana contígua. Apenas observavam algo parecido com uma nébula semelhante à do fumo, pendente sobre uma extensão do convés onde os legionários gesticulavam muito e movimentavam-se desordenadamente, acabando por abandonar a formatura em correria, para mergulhar no mar. A situação acabou por alastrar a toda a galera.

- Vamos recuar, são vespas africanas! Centenas delas! Os ferrões são como pequenos dardos, e estas estão bastante assanhadas, desde que foram fechadas nos potes de barro! – Riu-se Zlaton, descortinando o mistério da arma secreta.

A risada generalizou-se entre os combatentes iberos e cilícios enquanto aceleravam o passo de regresso à sua embarcação, aproveitando a desorganização lançada nas fileiras romanas.

 

Com todos a bordo, o barco dos marinheiros piratas afastou-se na direção de Cartago.

Restabelecida a calma, amparados os feridos e recuperados os maus tratos no equipamento, Zlaton deu ordens para se avançar com a preparação de refeição.

O tempo cobria-se de manto frio. Levantaram uma tenda junto ao mastro da embarcação, acenderam os fogareiros de bronze, e logo começou a correria dos cozinheiros ao porão dos aprovisionamentos.

As brasas atiçadas mordiscavam peixe, carne ou outros alimentos aparelhados sobre as grelhas. Uma pedra mantida ruborescida no calor da fornalha cozia a massa, transformando-a num pão liso, tostado e crocante. A mistura de condimentos exóticos adoçava ainda mais os intensos aromas, atiçando os sentidos e os estômagos esfaimados.

Em duas filas, os mais ilustres sentaram-se frente a frente, no tombadilho e sob a tenda. As taças com as iguarias iam circulando de mão em mão, assim como a bebida. Afagadas as fraquezas físicas, relaxavam os espíritos e a conversa avançava cada vez mais fácil, difusa e alegre.

 

No extremo oposto aos dos líderes, a ansiedade e a tremura dominavam Aleutério. Para ele, sobre aquele mar imenso, nada mais havia; nem barco, nem o enxame de indivíduos que, por força dos acontecimentos, se apinhavam dentro daquele casco sobrelotado. Zlaton era como uma visão hipnotizadora. Só os dois coexistiam naquele espaço, mas por múltiplos hiatos temporais, que corriam rápidos, entre o passado e o presente, na sua mente.

- O que se passa com o ancião, que me amarra sofregamente com o olhar?! Tem-me algum azar ou outro tipo de fel? Terei executado alguém que lhe era especialmente querido?

- Pelo contrário Zlaton, aquele homem tem algo para esclarecer contigo, e foi o verdadeiro motivo que nos fez voltar à liça com os romanos e lutar ao vosso lado. Deves ouvi-lo, porque esse parece ser o pronuncio dos deuses. – respondeu Tongídio.

O chefe cilício franziu o sobrolho, assentiu com a cabeça e apontou: - Tu, homem vetusto, vem sentar-te aqui ao meu lado. Quero escutar a sabedoria com que os anos te favoreceram. Zila levanta-te e troca de lugar com ele!

O pobre Aleutério estremeceu, despertando para o ambiente que o rodeava. Periclitante, com passos curtos, dirigiu-se e arrumou-se no lugar indicado. Leuko seguiu-o e aninhou-se atrás das suas costas.

Rubínia quebrou o gelo: - Apesar de viverem algo apartados da comunidade do nosso povoado, Aleutério e Leuko foram vaticinados pela graça da nossa deidade, Trebaruna, para que nos acompanhassem na missão que recebemos. Nada o fazia prever, mas o destino é-nos comum. Pouco ou nada sabíamos deste homem, que um dia apareceu junto aos nossos muros, sempre foi tido como alienado e, assim, respeitado no seu isolamento. Só recentemente, no decurso desta jornada, é que soubemos mais sobre o seu passado. Julgo que será esta a razão da sua eleição divina para o grupo e a obstinação por ti, Zlaton. Mas, ele o dirá…

 

Andarilhus

II : XII : MMXVI

publicado por ANDARILHUS às 20:52

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