Compassos

http://i122.photobucket.com/albums/o248/chalan2/001.jpg

 

Tento firmar-me no topo da montanha

De convicto e querido escarpado,

No cume do amor e desejo.

Escorregam-me os pés, aos poucos.

De cada vez que deixas cair expectativa

Lanço a corda do crer e do querer,

Mas o vento leva-me em sombra branca

De neve solta.

 

O beijo torna-se mais morno,

O abraço mais lasso;

O olhar pousa menos arrebatador,

A mão menos envolvida…

O elenco das carícias aparado.

 

Ainda não sei bem o que és…

Talvez o eco das vozes da terra,

Talvez o halo da minha busca de perfeição.

Sei que tudo o que temo está a teus pés

Arreigado na ponta dos meus dedos, sem guerra,

Pelos ditos das revoltas do coração.

 

Vem! Deixa teus pesos, as tuas sepulturas.

Espero-te em todas as marés,

Da penumbra ao alvor.

Remenda as feridas com novas costuras

Arremessa para longe a âncora da dor, do revés

E afaga as penas de Fénix renovador.

 

Vem! Não me deixes em pesos e sepulturas

Sacode-me, resgata-me de teus pés,

Asperge-me de sentir e calor.

Trava os rasgões da alma com fortes ataduras

Puxa-me para o barco que caio em negras marés

E caminha com quem sou, tira-me do teu andor…

 

Vem, vem nos passos que entenderes calçar.

Preferia-te na surpresa que, como maravilhado, te admirei;

Preferia-te na fera que, como presa, te concedi;

Preferia-te na atenção que, como estranho, te dediquei;

Preferia-te a bailar no que, como trovador, me imbui;

Prefiro-te na mulher por quem, como homem, me enamorei…

 

Mas vem, vem nos passos que entenderes calçar.

Eu sigo descalço, sempre, do modo como para ti cheguei ao mundo.

 

Andarilhus “(º0º)”

XXIII : V : MMVIII

música: The Mission: Dancing barefoot
publicado por ANDARILHUS às 08:53