O sonho de Lázaro [quimeras]

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Ver-te sair de mim,

Como o espírito abandona o corpo

É a mesma mortificação

A mesma dolorosa separação

Da sombra que abandona a luz

Descobrindo o vazio.

E se o Sol irradia até ao chão

Sem esbarrar em obstáculo,

É porque alguém desapareceu

É porque alguém se volatilizou

Na indesejada existência,

No nada dissolvente.

Ver-te verter para fora de mim,

Como a maré se torna vaza

É a mesma perda

A mesma dolorosa derrota

Do mar sem fundo,

Escoado e fragmentado

Em ondas pela inércia atmosférica.

E se os mares se suspendem no céu

Sem se precipitar na ínfima gota,

É porque alguém revirou o mundo

É porque alguém trocou as chaves do ser

Para trancar a realidade,

Para não perder o sonho de outro destino.

 

E o Lázaro amortalhado sem afeto e carinho

Vindimado na maturação do sonho,

Suspira por aquela voz que o chame:

Levanta-te Lázaro,

Levanta-te e caminha comigo.

A tua hora, a nossa hora, ainda não chegou;

Temos mais uma mão cheia de eternidade

Para apaziguarmos as dores,

Beijarmos a esperança dos sorrisos,

E para reconstruirmos o nosso mundo.

Vá, tonto,

Desce os oceanos aos fundos abissais,

Reaviva a tua sombra sob a luz pura do Sol,

Reintegra o meu espirito,

Desterra o corpo

e

Reentra no teu tão querido sonho real!

 

Andarilhus

XXIX : VII : MMXV

JP

2015.07.29

publicado por ANDARILHUS às 18:45