Epifania
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Acerca de anjos humanos…
E pela alva do novo ano, perfilam-se os anjos em formatura no aguardar de indicação SUPERIOR para as tarefas que lhes couberem em sorte.
Alonga-se a espera da revelação da lista de destinos a acompanhar. Os anjos, muitos e nervosos afincam as orelhas perfeitas, logrando conceber no ar o vozeirão do ministro das causas desprotegidas.
Já correm rumores: vão ser horas de leitura de infortúnios e mortes lentas.
A lista aumenta a cada ano que passa e neste derradeiro ciclo a degradação da vida humana incrementou sem tempo. Os anjos, esses, são cada vez mais... em número menor. Uns desistem por cansaço; outros caem nas tentações por impregnação contagiosa daqueles que deveriam salvar.
Desde que foi permitido aos humanos o sopro da invenção das aeronaves, os anjos de agora já não fazem questão de usarem o, outrora, valor acrescido das asas. E, assim, passam despercebidos entre as colmeias da sociedade.
No salão nobre dos passos do além, os milhares de cabeças angélicas, de halo penteado, virados para um só ponto cardeal atentam na chegada do lente. Arrepiam-se na expectativa as formas físicas que emolduram aqueles espíritos imortais.
Chega! E, sem tempo para contemplações ou apresentações desnecessárias, vai desfiando os casos que exigem a profilaxia divina e aponta, com tiro certeiro, num alvo sobre a multidão que o confronta. Mais um que parte para cumprir o trabalho designado. Leva consigo as instruções do suserano; aposta em si para sobreviver ao feitiço do fácil e para despertar o moribundo da rifa.
E eu, aqui, espero também. Espero religiosamente o saber se algum dos anjos se ocupará de mim. Eu que me aproximo tantas vezes do abismo do desistir. Eu que sou empurrado para a tristeza pela surpresa do desencanto e da desilusão das cordas que animam os fantoches deste mundo. Eu que acabo por me embrenhar nessas cordas.
Eu conheço-te anjo! Sei que fazes o teu melhor, mas não exijas muito de mim. Nem todos podemos ser santos e o meu corpo é já informe para vestir a túnica dos salvos. Perdoa-me se te desoriento pelos meandros do fracasso e do defeito! Salva-te tu de mim… ou então tem paciência e luta com todas as forças para que eu quebre nesta minha existência profana. Se acreditares no êxito da tua empreitada, talvez também eu acredite…
Os amigos são os nossos anjos mais perfeitos.
Quem de vós precisa de um anjo?
VIII : I : MMVII
Andarilhus “(º0º)”