O General Solidão

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 A solidão do íntimo profundo: a verdadeira solidão… A solidão que cresce ponto a ponto, em malha de aço fundida e depois é difícil de desmanchar…

 

O riso rodopia no ar! Rebentam foguetes de alegria, pintam-se em néon as paredes, as árvores, o céu com tantas palavras, tantas frases, ideias… confidências.

Espalhas-te por quem te rodeia. Diluis-te pela amizade e o conhecimento, misturas-te pelo amor. E todos, uns mais outros menos, pensam conhecer quem és e como o és. E sabem porque o és?

Pelos olhos dos amigos passam as tuas visões; pelos ouvidos dos teus próximos passam as formas mais recatadas do teu ser. Pelo coração dos teus queridos viajam os teus sentimentos; pelo cérebro dos de tua confiança vagueiam os teus pensamentos mais ousados…

E o que sabem eles dos esteios que firmam o teu EU?! Provavelmente… muito pouco… ou mesmo nada, em alguns casos.

Sim… vai à crueza da verdade… Já alguma vez sentiste o impulso de franquear em limpidez o portão do teu tesouro íntimo, mais arreigado à fonte da pessoa que és? O que fazes com tantos sentimentos, sensações emoções, mundanas e etéreas que reténs no cofre do teu segredo? Comunicas? Não?… Guardas nas catacumbas da alma, na vã esperança e na inibida vontade de algum dia, um qualquer arqueólogo de ânimos e vidas, no seu deambular pelos desertos de réplicas humanas descubra, acidentalmente, mais um indivíduo inequívoco.

Entretanto, na maior das euforias dos confessionários sociais, tu, a tua verdadeira criatura, perde-se no esquecimento acanhado e abafado pela nuvem de trivialidades corriqueiras que se cruzam e se trocam nos laços sociais.

Vives conformado na agremiação do cidadão; vives ansioso na solidão interior. Uma solidão maior, a verdadeira solidão a um, invisível, imperceptível àqueles que te poderiam dar a companhia da partilha de todo o mundo que carregas em silêncio.

Corres como um rio interior, marginalmente, pelos subterrâneos do mar quotidiano, sem nunca nele desaguar. Crias para ti, uma imagem, um cartão de apresentação, superficial, polido ao essencial fútil. Andas disfarçado pelas ruas da actualidade.

Aqui e ali deixas escapar algum perfume do teu jardim de encantos. Reagem mal, estranham-te e tu, arrependido e abatido pela audácia, retrais a espontaneidade e retratas-te como se houvesses cometido o pecado do Ser verdadeiro…

Depois tens de escrever estes textos para soltares algumas coisas de ti…

E tu, já te revelaste hoje?

 

É tempo de todos nós darmos um voto de confiança e apostarmos no que, verdadeiramente, somos…

 

Andarilhus “(ª0ª)”

XXIII : III : MMVII

música: Elephant: My apologies
publicado por ANDARILHUS às 08:50