Fides
Fé e apreensão.
Eis-nos chegados a novo porto de marasmo...
Já não somos guia nem companheiro. Perdemos os sinais e olvidamos os conselhos dos sábios da orientação. Num último suspiro de boa-vontade, atracamos para não afundarmos irremediavelmente. Paramos o relógio e destronamos Cronos dos dias que passam sem se contarem ou sem terem algo para contar. Afinal, não atracamos… encalhamos.
Mas, a vida é um soltar amarras em busca de novos mundos ou novos espaços onde cresça o nosso mundo. É a busca pelo altar onde possamos afeiçoar os nossos sonhos, com os entusiasmantes odores dos incensos da fé e da esperança.
E, de repente, a revolta! Abalam-se os dEUSES convencionados e as instituições que se dizem BOAS. Cortam-se as correntes e soltamo-nos do comodismo, do sentimento de segurança e do ostracismo interior. Arriscamos perder o muito ou pouco que temos por uma mão cheia de nada, mas possante na vontade de agarrar o futuro pela cintura e entrar na dança do destino. Acreditar que podemos guiar, por felizes momentos, os passos do nosso incerto parceiro de bailarico; vislumbrar prospectivamente os rumos pelo salão de baile; evitar a colisão com os outros pares… enfim, movimento pungente contra a inanição e o tremor dos fracos.
Inflamam-se as velas das nossas entediadas naus: é tempo de arrebatar as âncoras à opressão do manto fundo de coral lodoso e abrir caminho pelo labirinto do ancoradouro do descontentamento.
A PARTIDA para nova senda esgrime os argumentos da sobrevivência do SER, porque há mortes e MORTES e um corpo sem espírito é tão impotente como um espírito sem corpo, na condução dos passos da VIDA!
Sim, no limbo dos portões da memória silenciosa, aguardo o chamado sagrado para regressar ao trilho que deixei lá trás, esquecido sob o pó do deserto, coberto rapidamente pelo Alísio voraz e de gadanha em punho.
Falta apenas o elemento de ignição, a chispa que ateie os sentidos e o querer… já não falta tudo.
Na LARGADA, abandona-se o lastro residual, expurga-se a alma do entulho que a afoga; inala-se a energia da aurora e descobre-se novamente o calor do SOL.
É só um passo ao lado, de volta ao jardim do gosto pelas coisas que nos acalentam as passadas. Sempre ali esteve à nossa espera… que distraídos somos e como nos enganamos com quimeras balofas para não descansarmos o olhar sobre o que verdadeiramente importa. Reforça-se o TEMPO de ter FÉ, de coligirmos os nossos haveres mais preciosos, de abrir novas cartas de marear, de repor a bússola no lugar de onde nunca deveria ter saído e retomar os trilhos da descoberta! SAIBAM CAMINHAR…
IX V MMVI
“(º0º)” ANDARILHUS