Holograma
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Corre vento, amarfanha-me a fúria, deixa-me isento de sofrer a amargura do momento.
Sai. Sai pela janela e encara o Vento do Norte. Resiste-lhe como talude, mas escuta-o como confidente.
Perdi-me, na contemplação do reflexo da felicidade no espelho de água do aquário das sereias. Antropomórficas de aparência; terríveis banshees de essência. Começam por cativar o olhar, para tomarem tudo com gula. Vai-se a vontade, esvai-se o sangue da liberdade.
Atira-te ao vento como papagaio de papel, frágil mas com toda a desenvoltura para sugar a sua magnifica força e dela fazer chão seguro nos patamares do etéreo. Revolta-te e luta…
Voa. Voa mais do que o vento. Circunda-o e apanha-o pela cauda: descobre a sua fraqueza de Sansão; aporta-lhe o engodo de Dalila. Também te iludiram a ti.
Encontrei-me, no despertar em confronto com o muro. O muro do apocalipse do sonho. A terrível barreira de blocos secos e negros, carrasco do ideal. Ponto de término rectilíneo onde começa a imperfeição, a tristeza, a antípoda do círculo.
Alguém entrou em casa, por aceno; alguém a arrombou a partir de dentro, por retraimento. O bandido manso medrou no interior do lar, para vilipendiar, em carinho medido em doses contidas, a alma que lhe dera guarida.
Procuro-te, como a bússola busca o Norte. O Norte que tanto chama por mim. Quando me aproximo, acabo por abraçar um holograma. Não és tu, já lá não estás… apenas deixas pistas para que prossiga na demanda… apenas lanças migalhas para que te continue a rodear… apenas movimentas as ondas, para que siga vagueando nos teus braços…
e…
Dizes-me para esperar…
E como esperar, se este é um desesperar?!
Cada dia de inanição é um cravo ferrado a fundo no lenho de desânimo que me prende ao peso da realidade…
Chegará talvez o dia em que serás a tu a procurar-me. Talvez me encontres, já tarde, na mortalha da descrença. Talvez me encontres, adiado na realização e à deriva como balão alienado nos ventos virtuais… Cai o Norte, escangalha-se a bússola…
Entrega-me os teus ventos, rosa, de mim, senhora!
Andarilhus “(ºvº)”
XXVII : VI : MMVII