Ecce Homo
“Cristo precisa-se: mais 2000 anos de auto-(di)gestão falhados!
A TOLERÂNCIA, afastada ostensivamente para a zona proibida, vagueia na imensidão do reino das nuvens marginais, escorraçada e exilada pela ganância do mundo. Faz-se acompanhar pelo AMOR e pela SOLIDARIEDADE inibida.
Do alto observam a sua ausência entre sujeitos pseudo-normais, contemplando o formigueiro humano que lá no fundo labora cuidadosamente em prol da auto-aniquilação, sadicamente discutida ao ritmo do progresso.
Porém, entre o frenesim alvoroçado, facilmente se pode assinalar um último, longo e denso fôlego da paixão, que se espreme e serpenteia como um expresso entre as montanhas do MAL.
Descobrem então que no vale da (falsa) alegria ainda corre um regato de amargura transbordante pelas lamentações das pesadas consciências que em esforço carrega sozinho.
A sua corrente dolorida (que a esperança pouco alivia) arrasta mágoas de sangue, lágrimas de fel e todas as emoções acalentadas pelos carinhos violentos colhidos no seu tortuoso CAMINHO. No seu leito há muito que pedras asperamente abrutalhadas substituíram os seixos delicados do principio afeiçoado…
O ânimo que o alimenta é agora um abismo sem firmamento onde, pela extinção dos escrúpulos e da misericórdia, são abafadas as poucas boas recordações de um longínquo passado, sempre presente na lembrança do forçado esquecimento!
Os seus gritos gemem surdos na inércia dos ponteiros.
E o TRILHO que em vão ilumina já não o pode escutar, absorvido que está num silêncio ainda mais denso.
Ingenuamente pergunta-se quanto faltará até cruzar os portões altaneiros do PARAÍSO, puro mar-eterno, sonho que almeja alcançar depois de tormentoso sofrimento imenso.
Contudo, ignora que foi secretamente eleito como oferenda, a imolar aos CÉUS, pelas tentações e fraqueza humana.
Inevitavelmente, o seu dorso selvagem suportará todo o peso da ira divina. Sem possível salvação e como sangue de purificação, será infindável LENDA, memória viva da decadência da imagem de DEUS na sua existência mundana, vergada, avassalada ao senhorio do egoísmo, fonte da sua SINA.
O eterno descanso apresenta-se perante o regato condenado, como uma imagem de fumo que se dissipa e esgota no bafo podre do negro quadro que lhe serve de moldura.
E assim, o destino de mais uma espécie aproxima-se do clímax profetizado, anunciando-se já o julgamento do HOMEM por aterrorizante som da trombeta de onde brota a chegada do misterioso juiz que, alheado da sua essência tolerante, punirá sem brandura…
A grande travessia, a grande caminhada do HOMEM é na busca e ambição da sua projecção para as capacidades e poderes reconhecidos às entidades divinas, ou deve ser, antes de mais, na perspectiva da realização cabal do HUMANISMO e na crição de uma verdadeira HUMANIDADE?
XIX V MMVI
Andarilhus "(º0º)"