Dedicato
Dedico te meo verbo...
… E sempre a Primavera destrona o Inverno…
O degelo lava as cinzas escuras, trespassadas de marfim aqui e acolá, acumuladas no escano da sonolência embargada. Pela obscuridade buscam-se as lajes da saída, abaixo do tapete de pó.
Não! Há que despertar, limpar as teias e afugentar os frios caprichosos e enfadonhos que pintam as paredes do abrigo. O tecto vergara tanto com a rigidez e o silêncio da cobertura de neve, que quase se desbaratava ao encontro da tundra afiada do chão. Mas aguentou, solene e inflexível!
AREJO! Abrir as janelas do EGO, atear a circulação de novas ventanias de convicção e projecto. Libertar o cativo da sombra bruxuleante hirsuta e do feitiço do cerco da censura.
E, num primeiro puxar da pressão da fisga do movimento, espreitar pelo postigo da choupana, encarar a pigmentação da vida: SIM, há o verde dos desejos futuros; há o azul dos mares de fado; há o vermelho da força da coragem!
Um trago de audácia e intrepidez para enganar o receio e a incerteza. Rola a maçaneta da porta e ouve-se o praguejar dos gonzos pelo repentino espreguiçar, após tão longo período de inércia.
O primeiro passo para o exterior é tímido e sofre da angústia do assalto da traição. Todavia, a brisa é suave e convidativa. E há som! As musas tangem afoitas melodias que apelam à predominância dos sentidos. Experimenta-se o eco…
A erva fresca já absorve os passos, lentos, mas firmes. As articulações da alegria começam a estalar a empedernida cobertura do desânimo. Arroja-se a mais um e mais um e, rapidamente, assome-se o prado da cornucópia da fortuna. Rasgam-se as vestes soturnas e abrem-se os braços da DEDICAÇÃO para o enlaço com o ente que nos reconduz à felicidade.
Tomamos a senda da ventura, aceitamos algum acaso mas apostamos tudo no companheirismo. A Primavera renova o círculo do virtuoso cavaleiro das novas odisseias: tanto a descobrir, tanto mundo recente, tanto a sentir!
Agora, sem tornar o olhar para o ponto de êxodo, ouve-se a ruína do cárcere; já não há opressão nem asfixia. Amanhe-se o trilho, porque eu vou galgá-lo com rijas e rápidas passadas… já não há véus que me escondam o horizonte…
Quando se falha a direcção do trilho, do monte ou da vida, é prudente voltar atrás na busca do ponto do erro e do engano, ou, respira-se fundo, e arriscamos um corta-mato ao encontro do que a sorte nos propuser?
Andarilhus “(º0º)”