2 – A redenção ao ERRO: louvar e honrar o Bem

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Introito

Desossados os grilhões de pétalas de ouriço, melosas de fel intoxicante, que nos mantinham em delírio e atiço exasperado, encontramos, enfim, um compasso de paixão, de respeito, connosco, com os outros, para abrandarmos as emoções, os pensamentos, as verborreias, os atos. Deixamos corpo e mente relaxarem e, novamente, mesmo com os olhos cerrados, conseguimos distinguir as claridades da vida, das vivências. Descortinamos o sol a iluminar por entre uma fresca e diáfana bruma, pacífica…

Damos um passo atrás, para fora da nossa armadura; damos um passo à frente, a antecipar a nossa capacidade de interagir sem defesas e couraça. Redefinimos o nosso mundo em graça. Recuperamos a sensibilidade para intuir os milagres da vida com o coração. Reencontramos a beleza nas pequenas coisas do dia a dia e conseguimos proliferar a nossa atenção para os múltiplos, ínfimos, pedacinhos de coexistência que constroem os nossos dias.

Desabafamos as emoções por aqueles que adoramos, enquanto nos damos ao luxo de partilhar tímidos sorrisos, que se intensificam com a consciência da absoluta inimputabilidade moral e ética social, em qualquer cômputo de culpa nos erros, daqueles que de nós dependem e a quem devemos proteção, cuidado e afeto sem limites, e acima da nossa própria existência. Por eles, aceitamos os golpes dos algozes, não partimos, ficamos e acolhemos o destino com humildade e de BOA vontade. Estamos prontos. Desta feita, SIM, abrimos os cordões à bolsa onde guardamos, encasulados, os sentimentos doces, afáveis, do bem querer e do carinho!

Afoito, paira sobre nós o toque de seda quase intangível de sentir, de partilhar, de entregar em cornucópia de felicidade, sem hesitações ou receios, o BEM…. Assalta-nos a impressão de uma experiência próxima do arquétipo de paraíso. Reafirmamos o SIM: sim, redescobrimos a passagem secreta para o dileto paraíso perdido, o recanto dos idílicos momentos, do onírico desejo de ser justo, íntegro e digno! Libertam-se as fragâncias de benfeitoras expetativas, eloquentes presságios de bem-fadados tempos vindouros, alegra-se mais o contentamento e a crença de pousarmos os pés no BOM caminho.

Bem-aventurados todos aqueles que atendem ao chamamento das tréguas e da reconstrução, que defenestram tolhidos e constrangidos medos de se exporem em campo aberto, que, com coragem, sacodem os resquícios da intransigente condição.

Sem nunca esquecer, em reverência e respeito, agradecemos às deidades pelas graças recebidas, pela orientação que nos encaminhou de regresso ao rumo certo, pela luz que nos aqueceu e guiou pelas quelhas do êxodo aos momentos amargos, aos acabrunhamentos do ERRO, aos domínios do Mal.

Desfraldamos as velas para navegar nos mares da harmonia e da virtude próprias do Ser (-se) Humano.

Assim nos ajudem os ventos da concórdia.

 

Jorge Pópulo

música: The Smiths: There's a light that never goes out
publicado por ANDARILHUS às 07:53