Atalaia

Na vigília, pergunto-me; no repouso, pondero...

 

Pela visão do Homem passam os sonhos homéricos, os caprichos desmedidos e a realidade crua. A visão permuta do preto e branco para o mar de cores. A sua lucidez sustenta-se na honestidade do olhar.

Do terraço dos meus olhos vejo…. vejo o dia e a noite alternarem-se nos ditos do momento. Vejo a sombra assaltar a luz e absorvê-la como um buraco negro.

Do miradouro da minha consciência contemplo… contemplo o tempo a passar, sem idade. Contemplo o espaço a crescer, sem medida.

Do balcão do meu juízo pondero… pondero o meu corpo a atravessar o tempo e o espaço. Pondero a minha pessoa pelas metamorfoses da luz.

 

Pelo trono do Homem passam muitas fraquezas e virtudes. O trono comuta entre o revestimento de veludo acetinado e o de granito fragoso. A sua textura alimenta-se do escrúpulo do seu ocupante.

Do trono do meu destino alinho… alinho a conduta propícia ao cumprimento dos meus desígnios. Alinho a vontade à reverência do plano.

Do lugar do meu poder governo… governo as minhas forças na aplicação tenaz das energias. Governo os actos na disciplina da decisão.

 

Pela bola de cristal do Homem passam muitas expectativas e desilusões. A bola de cristal reveza da transparência vítrea para o lamaçal turvo. A sua mágica limpidez apura-se nas mãos que a fazem rodar pelo presente.

Da bola de cristal do meu pensamento exorto… exorto os meus fantasmas à fuga e decadência. Exorto o mau génio à prostração e aniquilação.

Da bola de cristal do meu desejo profetizo… profetizo a observância da paz e concórdia. Profetizo as jornadas do amor no pontificado do Homem.

 

Somos tão distintos e pessoalmente mutáveis. A turbulência das águas do quotidiano e os abalos dos chãos das nossas pátrias não obrigam, por vezes, à migração da nossa pessoa? A coerência é possível em todas as circunstâncias?

XII VII MMVI

"(º0º)" ANDARILHUS

música: Fields of Nephilim: The Watchman (The Nephilim)
publicado por ANDARILHUS às 08:34