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OPah era Princesa dos países do Extremo Norte. Porém, fora destronada pela rebelião dos Adoradores das Estalactites, provenientes das misteriosas Cavernas da Penumbra e refugiara-se na fronteira. Aí, inalcançável nas grandes estepes geladas, não dominava reino ou território. Vivia com os parcos recursos que pudera arrastar na fuga.
Conseguira escapar graças aos seus 3 cavalos da linhagem da Túmedra. O Linha, o Fio e o Cordel. Os possantes animais corriam como um só novelo, de vento e mel, com uma desenvoltura que deixava marca no olhar a quem houvesse privilégio de os mirar no deleite da velocidade e da formatura estética. Eram do mais puro gelo e partilhavam o espírito e a racionalidade com os humanos.
O Linho era branco opaco e geria bem e com sabedoria a liderança reconhecida pelos demais. O Fio era de um azul-água, verdadeiro golfinho da superfície dos lagos gelados e o Cordel de um verde-líquen que enchia as copas alvas das árvores com promessas de Primavera.
O trono de OPah era a sela de prata e couro com que trajava majestosamente os seus cavalos, à vez. Tratava-se de uma cavaleira impar, sem rival na arte equestre. Eles respeitavam-na na minúcia e alegravam-se na sua pureza animal quando lhes tocava a oportunidade de transportar a sua senhora.
Passavam-se os dias, sem que Opah lograsse juntar as forças suficientes para retomar o que lhe pertencia por direito de herança e tradição. Magoava a sua beleza com o carregar de expressões tristes e preocupadas. Consumia horas em silêncio e olhares vagos e perdidos. Esmorecia em farrapos de manhãs ou tardes, deitava-se em dormitar desiludido mas despertava alegre e confiante pelo grito da alvorada. E retomava, do início, a contagem de forças e a preparação da estratégia, como se fosse o primeiro dia de exílio. Todavia, as horas continuavam a passar e o desalento avançava com o Sol…
Nos fiéis cavalos encontrava alguma paz, algum consolo. Esquecia-se por momentos das agruras deixando-se levar por longos passeios. Num desses passeios, junto do ponto em que o mar beija a terra, viu numa enseada, sita no sopé do monte onde repousava, a chegada de umas embarcações estranhas. Eram barcos longos e esguios, com uma longa vela quadrada ao centro, temíveis cabeças de animais à popa e uma espécie de cauda nas proas.
- “Conheço-os…”, disse o Cordel, prontamente. – “São os Vikings. Vêm de terras ligeiramente mais a Sul. São guerreiros formidáveis, mas muito cruéis. Vamo-nos daqui antes que nos vejam”. E saíram dali com o repente do trovão.
Nos dias seguintes não se afastaram demasiado do acampamento. A rotina continuava.
Opah fazia planos sobre planos e debatia-os com os equídeos, enquanto deambulavam pela floresta próxima. Nessa tarde, estavam mais efusivos do que o normal na discussão, tanto que não se deram contam de estranhas presenças. Quando entraram numa solarenga clareira, fechou-se às suas voltas um forte e metálico biombo de homens. Os Vikings! Eram guerreiros possantes, de longos cabelos e barbas, claros, reluzentes nas suas armaduras.
O Linho tomou posição imediata de defesa, exortando os companheiros na protecção a Opah. Cerraram fileiras e mostraram os cascos e os dentes e sobretudo a sua beleza sem par, na mescla das suas tezes.
Adiantou-se um distinto dos Vikings, de guedelha castanha clara, ao jeito do carvalho polido, que sobressaía naquela pequena multidão de loiros.
- “Nada temam. As nossas intenções são pacíficas. Eu sou Yopulus e estes são os meus conterrâneos. Sou o chefe ungido desta expedição. O que nos trás por cá, tão a Norte, é uma situação de flagelo que cobre a nossa pátria. Mas quem sois vós, estranhas criaturas?”
Linho não facilitou e manteve a formação disciplinada. Ela, menos alarmada e mais relaxada, respondeu de dentro da sua fortaleza de cristal: - “Sou Opah, Princesa das terras que pisais. Fui destronada por uma seita que, como erva daninha, irrompeu do solo e tomou vorazmente toda beleza e alegria do meu reino. Estou exilada nestes lugares gelados, onde eles não conseguem chegar por falta de resistência ao frio extremo. Estes são os meus bravos companheiros. Não são meros cavalos, mas isso até um bárbaro como vós já deve ter reparado”. A Princesa mostrava-se digna da realeza. Mesmo em perigo e desvantagem explícita, impunha-se perante os estranhos.
- “O que nos quereis? Porquê este cerco? Que fazeis aqui?”
Yopulus, olhou em volta e fez sinal. Foi obedecido num ápice. Os guerreiros afastaram-se e procuraram lugar para repousar e recuperar forças. Quedou-se apenas o chefe Viking.
- “Perdoai a nossa rudeza, mas tínhamos de nos certificar que serieis inofensivos e de confiança. Agrada-me a vossa coragem e arrojo. Rivaliza definitivamente com a vossa beleza… Bem, mas falemos do que nos trouxe às vossas costas.
Arghard, os nossos domínios, sempre foi uma terra próspera: fértil nas suas mulheres e culturas, venturosa nas suas demandas comerciais e engenhosa nos mil ofícios. Escolhemos desde há muito a via pacífica e a troca de saberes e produtos com outros povos. Seguimos o curso da guerra apenas quando alguns olhares de cobiça se lançam sobre as nossas casas e posses. Infelizmente, estamos em guerra agora. Todavia, é uma guerra diferente e não convencional. A amargura veio connosco, mas o desespero e a dor ficou no nosso país. Vou contar-vos o nosso terrível fado e razão desta nossa jornada".
(continua)
Andarilhus “(º0º)”
XXI : V : MMVIII