O Uivo da Lua

 

http://www.fotosguapas.net/data/media/10/aullido_lobo.jpg

 

Pertence-te, Senhora,
O jardim das trevas delícias;
És o vórtice voraz do olhar noctívago.
Cativas o mais cego de alma;
Beijas o mais espesso de desafectos.
Contudo, nada exiges, nada esmolas…

Pertenço-te, Senhora,
O grito uivante por tua magia.
É com gravidade solene que agitas
Estas passadas rápidas em tua demanda,
No ponto mais alto do penedio.
E nada me prometes, nada me negas…

#

Pertence-te Feroce Bestia,
A luz primeira que estalou na noite;
Reino cálido dos odores da quanta obscura herança.
Pertence-te a vida que te oferto
Sustentada por um límpido e dúbio destino sem prazo.
Dodecaedro sem faces, espelhado nas teias que te lança,
Ao mistério do meu caprichoso sentir que te pertence.

Não deixes que a obscuridade entre em teus canutilhos
Semeie o feitiço que te enlaço, enchendo-te de presenças minhas palpitantes.
Segura-te aos fios - halo, inconfundíveis do meu dossel de farrapos,
Frondosos brancos pespontos de goma fresca sob a almofada que te pertence.

#

Sou lobo encantado, adestrado ao teu feitiço,
Cansado pela espera da passagem dos dias,
Fero pela chegada do breu estrelado
Que te destaca, majestosa, de crescendos e cheias
Em véus de luz que de ti depuro… até que
A madrugada me fere com as presas da despedida.

Mas, pelo crepúsculo, repetidamente, corro serras, furo giestas
Rasgo-me do chão de carqueja, por outeiros
Cada vez mais escarpados e sobranceiros.
…Para trás fica pátria, a tribo e a prol.
Não resisto a místico deambular,
Na hora em que contemplo no zénite,
A centelha do meu mundo iluminado!

#

Pertence-te, Feroce Bestia,
O aquoso bosque dos sonhos;
Uivo que me estremece e me faz vibrar.
(Desliga o interruptor)
E às escondidas, estendemo-nos na ramagem,
Estremecendo a caruma seca no vale subjugado ao luar que te pertence.

Pertence-te, Feroce Bestia,
O frio rasgão da tua unha plena de saberes,
O fluxo ardente das tuas veias nos meus minguantes e novas,
Ao seres vida oferecida na magnitude da minha ressurreição…
Que não me pertence.

###

No reencontro, a calma e o deslaço
Do amordaçado grito de alegria
Em soturno e arrepiante compasso.
São cânticos desajeitados, de fantasia,
Que, no desejo de ser coruja,
Elevamos no ar o encurtar
Do espaço que nos aparta do abraçar…


MariaTreva Flor
Andarilhus
XV : III : MMIX

 

NOTA: Este texto foi primeiramente publicado no Worldartfriends, como resultado da colaboração dos autores, em sede de concurso de poemas elaborados em dueto.

publicado por ANDARILHUS às 23:50