O Drama sem Argumento

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Soprou

Solfejo de tentação,

Deixou perdido

O apátrida de coração.

Assim quis dEUS,

…Aquele dEUS,

E mesmo com essa caução,

Fez a folia do Diabo,

Soldou os nós nos cordéis do destino,

Descalçou o passo dos submissos.

 

Provocou

Reacção bruta, cruel,

Naquele aflito.

No centro da arena,

Ali, no eixo do circo,

Sentiu a turba

Em comunhão

Em mais um delírio.

Sentiu-se só,

Como um bicho acossado

E rendido,

Tombou caído,

Aceitou o pedido

Assumiu o delito.

Levantou-se Caim…

 

Esqueceu Abel,

Esqueceu o sangue irmão,

E derramou-o em golfadas

Pela areia, sem chão,

Do canto mais obscura da vida,

No vazadouro de fel.

Espojou-se na areia

Agora pegajosa,

Perdeu as lágrimas

E o afecto.

Acercou-se de dEUS…

 

Riu louco,

Pelo baile de aplausos,

Do dEUS,

Entre aqueles dEUSES…

Ganhou-lhe o gosto,

Ao vício do Senhor,

À áurea de herói,

Ao fratricídio dos seus,

À fragrância do sangue mosto…

 

Nesta sofreguidão amaldiçoada

Não se cansa de exterminar Abel,

Não há tempo que o satisfaça,

Sedento e sem consolo,

Ás voltas no circo desgraçado,

Já busca Abel em cada Caim!

E quando ficar o último Caim?

Quem lhe resta para aniquilar?

…Aquele dEUS.

 

Caiam os “deuses” antes que se corrompam os homens…

 

Andarilhus

XXVIII : V : MMX

publicado por ANDARILHUS às 08:42