Por Ti Seguirei... (22º episódio)

 

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(Continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/50026.html)

Para retardar os invasores reutilizaram o fogo: aproveitaram a lenha seca espalhada pela barricada para incendiar os rebentos verdes dos arbustos e assim provocar labaredas de ruído crepitoso e um fumo muito denso. Foi mesmo a tempo de tolher um pouco o ímpeto dos Romanos.

Cerradas as defesas junto à ponte e enquanto os Celtas iam passando com cautela e à vez sobre a passagem frágil, a custo e às “cegas” os legionários superavam os obstáculos e entravam no recinto inimigo, sem perceber o que se estava a passar. Muitos nem tiverem tempo de ver o que os esperava: uma saraivada de pedras e flechas caiu sobre eles, fazendo tombar uns quantos e aninhando outros atrás de protecções. Os Romanos ficaram de sobreaviso e, seguindo instruções dos que já estavam no topo do outeiro, aproximaram-se com maiores cuidados. Em breve já estavam algumas dezenas para lá da barreira.

Com esta indefinição do inimigo e com constantes disparos sobre aqueles, obrigando-os à imobilização, a maioria dos Celtas conseguiu atravessar o rio. Seguiam já os últimos entre os destacados para a defesa final, começando pelos fundibulários e os arqueiros e depois os guerreiros que se haviam colocado à sua frente. Nesse momento, quando restavam praticamente só os líderes desse lado do rio, os legionários, já em grande número e ainda sem conhecimento da existência de uma ponte, concertaram um ataque em conjunto, investindo sobre o centro de onde haviam sido atingidos pelos projécteis.

No espaço afunilado daquele ponto os agressores não conseguiam avançar em massa. Mesmo assim eram bastantes para os poucos adversários que tinham à sua frente. Os gládios já mostravam o frio do metal bem alto, mas uma nova chuva de flechas e rebos, vinda do lado de Urtize deteve parte dos atacantes. Os que sobreviveram precipitaram-se como lobos sobre Gurri, Alépio, Tongídio, Zímio e Rubínia. Cada um enfrentou de imediato 2 ou mais inimigos.

Tongídio e Zímio, principalmente, procuravam desenvencilhar-se dos opositores directos para irem em auxílio de Rubínia que, apesar de excelente no manejo de armas, estava assolada por uma dupla de legionários corpulentos. Tudo se passou muito rapidamente, mesmo com a chegada de mais Romanos, entre os que conseguiam passar pela razia que os homens de Urtize iam provocando nos invasores, à distância.

Apesar de tentarem sair em apoio a Rubínia, retalhando impiedosamente carne e metal nos adversários, os companheiros deparavam-se sempre com mais algum que os retinha. A mulher, embora fisicamente mais fraca do que os legionários, fazia da destreza e da mobilidade a força que lhe faltava. Sempre ágil, feria os beligerantes rapidamente, colocando-os temporária ou permanentemente fora de combate.

A pressão do assalto empurrava cada vez mais os Celtas para os limites da margem. E foi por motivo dessa circunstância que se chegou a um desfecho da batalha.

A certa altura da liça, Rubínia atravessou de tal forma a espada através da couraça e corpo de um opositor que não a conseguiu retirar do moribundo. No seguimento do movimento e já concentrada sobre outro inimigo, sacou do punhal, cravando-o na garganta do infeliz, logo acima da lorica segmentata, e puxando-o simultaneamente para si através da orla superior do escudo, para intensificar o golpe.

Com a dor e o sangue a jorrar em golfadas, o legionário soltou o escudo que suportava a força e o peso de equilíbrio da guerreira. Rubínia recuou bruscamente por razão da libertação da força que estava a imprimir ao escudo, deu um passo cambaleante para trás e, consciente de que estava no extremo do solo firme, rodou e só teve tempo de colocar à sua frente a arma de defesa do inimigo, no instinto de ter alguma protecção no impacto que resultaria do mergulho involuntário que descrevia agora no vazio, direita às águas frias e tempestuosas do Ebrol.

Os companheiros deram um uivo abafado, olharam fugazmente para o rio e viram Rubínia a ser levada atabalhoadamente pela corrente, sem lograrem enxergar se estaria viva. Dir-se-ia que se manifestava então o deus da guerra! Possessos pelo ocorrido, os Celtas trucidaram os adversários, como se fossem máquinas terríveis de morte e tortura. Os gritos dos legionários pelas lacerações e mutilações infligidas deram que pensar aos que chegavam e suspenderam os combates.

Tongídio, com o rosto carregado por uma expressão alienada, recolheu a falcata ao cinturão e sem uma palavra atirou-se ao Ebrol, no encalço da sua mulher. Zímio, quase tão absorto como aquele, lançou-se igualmente ao rio. Alépio olhou para Gurri e disse-lhe: -“És agora o novo comandante destes bravos. Iremos ao teu encontro, se os deuses o permitirem.” Colocou-lhe a mão no ombro em sinal de despedida, mas o caudilho Vacceu segurou-lhe o pulso e dirigiu a palavra para a outra margem: -“Urtize encaminha-os para Rórica. Encontramo-nos lá!” Puxou Alépio e saltaram ambos para o destino do Ebrol. Uns atrás dos outros, desapareceram no curso do selvagem Ebrol.

 

Andarilhus

XIV : IX : MMX

publicado por ANDARILHUS às 20:39