Quarta-feira , 10 de Novembro DE 2010

Por Ti Seguirei... (31º episódio)

http://mjfs.files.wordpress.com/2007/09/berrao-touros-de-guisando.jpg

 

(Continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/52359.html)

- “Tongídio, grande companheiro. Há quanto tempo não te via. Desde o teu casamento?! Áh e Rubínia, como… mas… também está aqui! Que grande alegria! Mas… Afinal o que se passa?! A que se deve este cenário de perseguição por estes abutres ambulantes?

Como já começava a míngua da luz, decidiram estabelecer-se por ali, para passar a noite.

Os Vetões vinham bem preparados para longas andanças em deriva pelo território. Os Arévacos mostravam-se empertigados e muito activos, o que exigia maior atenção nas fronteiras. Por isso, nessa noite não faltou a carne fumada e os bolos de mel e cevada, bem acondicionados no estômago por umas generosas goladas de cerveja.

Talauto tomou conhecimento da demanda do grupo e dos motivos da sua génese. Associou então o relato às histórias que já ouvira sobre uma onda de rebeldia que caíra sobre os Romanos e aliados, perpetrada por um grupo de Celtas do setentrião ocidental. Sempre pensou que era mais um episódio do imaginário das pobres cabeças que sentiam a opressão cada vez mais perto. Afinal era tudo verdade! E mais, o seu irmão de sangue era um dos protagonistas.

-“Já se aperceberam que algo que parecia de todo impossível está a acontecer e cresce, com grande possibilidade de sucesso? De tanto que me contaram, uma ideia é central: os povos da Ibéria estão a unir-se contra um inimigo comum, como jamais o haviam feito.

Reparem nas origens deste conjunto de gente que formais e lembrem-se dos outros que entretanto seguem convencidos pela vossa causa. Todos os povos do Nordeste e meseta central estão representados. Se conseguirem reunir todas as forças, não haverá exército que vos vença!

Talauto era tido como um sábio. Uma figura de acertadas interpretações e firmes decisões. Diziam que escutava os conselhos dos deuses, privando com eles.

O Vetão ajeitou-se no assento de madeira concentrando em si a atenção dos presentes. Estavam todos em volta de uma fogueira ampla mas de chama mortiça.

- “Temos de aproveitar este momento de grandes sortilégios para libertar a pátria dos seus parasitas externos. Soube que os Romanos pensam também que esta é uma oportunidade única para as suas cobiças. Os mercadores que vêm do Sul e do Oriente trouxeram relatos sobre mais duas legiões que estão prestes a entrar na Ibéria, enquanto ainda Aníbal não está preparado para acometer contra o inimigo. Mas mesmo sem os Púnicos, agora é a nossa vez!”

- “Falas bem meu caro irmão. Não podemos permitir que se expandam pelo território e comecem a instalar quintas e famílias trazidas da Itálica. E muito menos deixar prosperar os campos militares romanos. Se facilitarmos, o tempo transformará o nosso inimigo invencível. Se os temos agora concentrados sobre nós, há que os levar para sítio que nos seja favorável e dar-lhe uma lição inesquecível. Assim já o referiu também Alépio”. Lembrou Tongídio.

Tornou-se assim, aquela noite, numa viagem de planos estratégicos e sonhos sobre o advir, com farta conversa, comida e bebida. Foi um momento afortunado e importantíssimo para o futuro próximo da Ibéria.

Tomaram muitas decisões. Sobretudo acerca da união entre os irmãos desavindos das várias tribos e cerrar fileiras contra o inimigo comum. Urgia também saber por onde andavam os Romanos e as manobras que iam realizando, em conjunto com os aliados.

Talauto, considerou determinante a reunião dos diferentes povos e, com mais uma ideia de génio, aventou promover um concílio dos clãs, durante o qual se realizariam festividades em honra dos patronos dos diferentes panteões tribais, e se realizaria também uma competição entre as tribos com base em jogos tradicionais, que incluíam modalidades relativas a força, resistência, destreza, astúcia e inteligência. A rivalidade reinante e o desafio da disputa garantiam, logo à partida, participação alargada.

Despachou emissários aos 4 ventos que embalavam a península, no intuito de convocar os chefes e os seus séquitos para o evento, o qual marcou para o solstício do estio, na cidade central dos Vetões, Obila.

No dia seguinte, um contingente liderado por Talauto seguiu para Norte, em direcção à bela capital vetã. O corpo principal da hoste permanecia junto das fronteiras, de sentinela a indesejadas visitas.

Com facilidade e sem contratempos, em dez dias tragaram o território que os separava do destino. Iam finalmente repousar em lugar amigo e sem receios de más surpresas. Porém, Tongídio suspirou: Obila era confortável e segura demais para o seu permanente anseio de novas aventuras e aliciantes desafios.

De facto, a cidade era de grandes dimensões e muito povoada. Estava aberta e com poucos guardas. Algo estranho para o grupo de Rubínia. Situação que já não constatavam há muito tempo.

Obila alargava-se por um amplo planalto, crescendo depois por uma colina central, sobre a qual se erguia uma cidadela cuidadosamente fortificada. Em volta do perímetro urbano, três anéis de grossos muros, conjugados com um profundo fosso exterior, reforçavam as defesas arquitectónicas. Cada muralha tinha pelo menos três portas, nunca coincidentes entre muralhas. A ladear as portas junto do fosso, torres, erguidas em madeira, serviam de pontos altaneiros de vigia do território circundante.

No interior do recinto da cidade vivia-se um ambiente frenético de movimento de pessoas e bens, acelerado pelo próspero desenvolvimento mercantil do lugar. Os espaços da citânia estavam bem delimitados e hierarquizados.

A Nascente, junto dos contrafortes da cidadela, impunha-se, também imponente, o bairro das residências da oligarquia vetã e das famílias dominantes. Abaixo, já nas planuras, estendia-se uma grande mancha de casas, que albergavam a generalidade da população.

A Norte, a cidade estava ocupada por zonas militares, com áreas de treino, de estábulo e arsenais, bem como por pequenas indústrias florescentes, designadamente ligadas ao trabalho de metais, ao labor da tecelagem e à produção de artigos de barro e entalhamento de pedra.

A Poente e a Sul, a urbe abria-se à comunidade com os seus espaços públicos. Aí encontrava-se o poder religioso e os templos, a força do comércio, com variadas actividades de escambo, os banhos públicos e os espaços de lazer e convívio. Fora de muros, numa encosta verdejante adjacente estabelecera-se o local de realização dos ritos funerários, muito próximo do complexo granítico destinado aos sacrifícios em honra dos deuses.

O poder civil e militar concentravam-se no topo, na cidadela. Foi para aí que seguiu o grupo, depois de admirar a beleza e o frenesim de Obila.

(continua…)

 

Andarilhus

XI : XI : MMX

publicado por ANDARILHUS às 21:02

O Sol Invictus

http://www.wendycarlos.com/eclipse/01fin.jpg

 

Até que desenlacem os braços do meu Sol,

Estranharei todas as sombras,

Os agouros de runas.

Combaterei as alucinações

Dos calores postiços;

Vaguearei por oásis de areia ressequida

Refrescarei no deserto de lágrimas dunas.

 

Até que do meu Sol venha o abraço do amor,

Escorraçarei os falsos messias

Não crerei nas promessas de santos idólatras

Nos odores de incenso de bolor

Das catedrais frias

De deus ou do homem;

Dormitarei na solidez das casas ruídas

Acordarei nos medos da prisão da lembrança.

 

Até que o meu Sol não seja reposto,

Ignorarei qualquer corpo estrelar

Não cingirei o sorriso no rosto

Não ensaiarei sinal de ressuscitar;

Serei cadáver para os necrófagos

Da Tristeza

Serei mar de faina para as rapinas

Da desgraça.

 

Até que o Sol, aquele Sol… O meu Sol

Se faça super-nova

Em estrebuchado resgate

Do definho no burilado negro encanto,

Incinerando as correntes de cera

Faiscando os cães de seda

Que lhe sugam as órbitas de luz

Que o tapam em obscuridades

E lentamente o esvaem de alma …

Não…

Sim, serei noite eterna de aguardar

… Sem madrugar.

 

Andarilhus

X : XI : MMX

publicado por ANDARILHUS às 08:42

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