Quarta-feira , 30 de Novembro DE 2011

O (desen)canto da sereia

http://maurilioferreiralima.com.br/wp-content/uploads/2011/11/ulisses-300x245.jpg

 

Procurou o lugar do início,

Procurou-o como um fim,

O fim, o adeus…

O mar nada lhe disse;

Continuava no mesmo vai e vem

Ondulado,

Tal qual as marés dela sobre si,

Num trabalho cuidado

Em o manter incerto,

Nem longe nem perto,

Apenas a orbitar, apenas a jeito.

 

Fora ali

Que o pescara

Com redes de amante tentadora,

Acorrentando-o a âncora de paixão

Em águas de lírica de ilusão,

De pouca dura,

Apenas o suficiente…

Até que,

Após fugaz Primavera,

Se desvendou a natureza

Daquela criatura:

Sem ser para partilhar,

A sensual mulher,

Afundou com a máscara,

Emergindo ao luar,

Escamada barbatana

De sereia disfuncional …

 

Quando vê o vento de revés

Cinge o velame feminino

E ainda canta

Do alto da ilha dos amores.

Mas ele, desidratado a coral,

Escuda os ouvidos, amarra os pés,

Aos mastros de frágil embarcação.

Resiste aos avanços do anzol,

Já não navega no viço de flores de sal

Onde ela fisga os perdidos

Que bolinam nos charcos da solidão.

 

Agora que perdeu sentir,

Passou no lugar do início,

Procurou-o por fim…

Sem advir.

Passou por ela

Mas não a encontrou.

O mar já não o fazia suspirar…

 

Andarilhus

XXX : XI : MMXI

publicado por ANDARILHUS às 07:58
Quinta-feira , 03 de Novembro DE 2011

Os Abandonados

http://www.azgallery.org/artgallery/artists/babayev.rasim-22/babayev.rasim/babayev_r_15.jpg

 

O céu arde!

Caem os anjos celestes

Como gotas de sangue

Da rachadela calcinada

No abismo do rebentamento

Do Sol,

Dos senhores de toda a criação.

Já é tarde

Derivam, exangues,

Com a verdade bem ferrada

Sem lamento

Da sua prol ungida,

Saídos do covil

Para abocanhar

Os nacos dos defuntos

Progenitores.

O céu enegrece em brasas

Sem cimo ou pedestal

Caem estrelas em constelação,

Esfolam-se os santos

Subtraem-lhes as relíquias

Arrancam-lhes os halos

Entronizam-nos

Nos altares da decadência.

E mesmo no rombo dos mundos

Alguém se esquece,

Ninguém se lembra

Dos anjos mundanos,

A plebe enlameada

Sem coroa, sem púlpito,

Pagã, agnóstica

Sem alinho, sem cartilha

Arrastada no definho

Sem abrigo, abandonada

Sob os tições, os cacos de linho

Tombados, fumegantes

Da ordem, da fé,

Dos altos da corrupta virtude…

O céu arruína-se na multidão,

Queimam-se os vivos

E os sobrevivos,

Na dor do caos,

Da derrota, da perda

Os ímpios, os marginalizados

Estão mais próximos,

Mais iguais

Mas sempre

Abandonados

Mais…

Abandonados.

 

Andarilhus

III : XI : MMXI

publicado por ANDARILHUS às 21:03

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