Os Abandonados

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O céu arde!

Caem os anjos celestes

Como gotas de sangue

Da rachadela calcinada

No abismo do rebentamento

Do Sol,

Dos senhores de toda a criação.

Já é tarde

Derivam, exangues,

Com a verdade bem ferrada

Sem lamento

Da sua prol ungida,

Saídos do covil

Para abocanhar

Os nacos dos defuntos

Progenitores.

O céu enegrece em brasas

Sem cimo ou pedestal

Caem estrelas em constelação,

Esfolam-se os santos

Subtraem-lhes as relíquias

Arrancam-lhes os halos

Entronizam-nos

Nos altares da decadência.

E mesmo no rombo dos mundos

Alguém se esquece,

Ninguém se lembra

Dos anjos mundanos,

A plebe enlameada

Sem coroa, sem púlpito,

Pagã, agnóstica

Sem alinho, sem cartilha

Arrastada no definho

Sem abrigo, abandonada

Sob os tições, os cacos de linho

Tombados, fumegantes

Da ordem, da fé,

Dos altos da corrupta virtude…

O céu arruína-se na multidão,

Queimam-se os vivos

E os sobrevivos,

Na dor do caos,

Da derrota, da perda

Os ímpios, os marginalizados

Estão mais próximos,

Mais iguais

Mas sempre

Abandonados

Mais…

Abandonados.

 

Andarilhus

III : XI : MMXI

publicado por ANDARILHUS às 21:03