O (desen)canto da sereia
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Procurou o lugar do início,
Procurou-o como um fim,
O fim, o adeus…
O mar nada lhe disse;
Continuava no mesmo vai e vem
Ondulado,
Tal qual as marés dela sobre si,
Num trabalho cuidado
Em o manter incerto,
Nem longe nem perto,
Apenas a orbitar, apenas a jeito.
Fora ali
Que o pescara
Com redes de amante tentadora,
Acorrentando-o a âncora de paixão
Em águas de lírica de ilusão,
De pouca dura,
Apenas o suficiente…
Até que,
Após fugaz Primavera,
Se desvendou a natureza
Daquela criatura:
Sem ser para partilhar,
A sensual mulher,
Afundou com a máscara,
Emergindo ao luar,
Escamada barbatana
De sereia disfuncional …
Quando vê o vento de revés
Cinge o velame feminino
E ainda canta
Do alto da ilha dos amores.
Mas ele, desidratado a coral,
Escuda os ouvidos, amarra os pés,
Aos mastros de frágil embarcação.
Resiste aos avanços do anzol,
Já não navega no viço de flores de sal
Onde ela fisga os perdidos
Que bolinam nos charcos da solidão.
Agora que perdeu sentir,
Passou no lugar do início,
Procurou-o por fim…
Sem advir.
Passou por ela
Mas não a encontrou.
O mar já não o fazia suspirar…
Andarilhus
XXX : XI : MMXI