A Viúva Negra
No teu
Jardim dos encantos
Cresceu
Graúda e tenaz
Viúva Negra
Que estende teia
De opacos mantos
Onde tua vontade jaz
Sem sopro ou ideia,
Em paralisado emudecimento
Do teu génio feminino
Assim… incapaz…
Bloqueia-me o gesto ladino
Quando te procuro
Na tua essência,
Na tua condição;
Levanta labirinto
De arisco muro
Quando, em veemência,
Te chamo em caução
Por tanto amor
Que sofro, que sinto…
A déspota insaciável
Exige novas presas,
Novas sujeições,
Para o poço dos defuntos
Sem morte
Que dos fundos do passado
Estão sempre à mão,
Como fantasmas
De memorável consorte
Para gáudio excitado
Da recordação.
Já me vejo enleado
Na negra seda
No fio do prumo
Da queda
No jardim das lápides
Entre as almas reféns;
Já me vejo vergado a desdéns
Na soma das conquistas,
Esmagado fruto sem sumo.
A desilusão petrifica,
Intima ao recolher;
O desgosto mortifica,
Derriba a crença na vida,
No amor.
Em fuga ofegante
Da predadora venenosa
Pelo jardim dos teus encantos,
Defendo resistência penosa
Algures no reduto
Das últimas courelas livres
E ainda alumiadas com as centelhas
De luz da redenção…
Andarilhus
MMXI / MMXII