Caminho Português de Santiago: Diário - Dia 2
Caminho de Santiago, Valença do Minho – Compostela, Julho 2012
Diário / Crónica
Porriño – Pontevedra; 14 de Julho de 2012
2º dia
Ao segundo dia, as perspetivas climáticas não eram muito abonatórias. Pelas previsões meteorológicas iríamos encontrar mais chuva, embora com tendência de redução da sua intensidade. E, de facto, S. Tiago deve ter dado uma palavrinha a S. Pedro. Felizmente, apenas aos primeiros km nos foi exigido envergar os impermeáveis, e por pouco tempo. Passamos isentos dos tormentos provocados pela água dos céus no dia anterior.
Porriño ficava para trás e apontamos a Redondela como etapa intermédia do dia.
Após alcançarmos Mós e o seu belo palácio, e transposto a subida do monte que se lhe seguia - o Monte Cornedo – o ponto mais levado até às redondezas da própria Compostela – tomamos o pequeno-almoço nas proximidades da capela de Santiaguinho de Antas. Comemos “tostadas e café com leche”, servidos com grande simpatia!
A partir de então a presença ocasional da chuva desapareceu definitivamente.
Daí até Redondela o percurso assumiu uma tendência descendente e rápida. Repousamos alguns minutos junto às portas do albergue dessa localidade (onde tencionávamos passar a 1ª noite, segundo os planos iniciais), aproveitando para conhecer mais alguns peregrinos.
À saída de Redondela, e após mais alguns atravessamentos da N550 e do caminho-de-ferro, abraçamos a subida para o Alto da Lomba, parando num pequeno parque de merendas, já a breve curso do cume. Aí almoçamos e reabastecemos de água fresca na fonte do Outeiro de Penas. Enquanto repousávamos, passaram pequenos grupos de peregrinos, sempre em salutar saudação: “Bon camiño!”
Retomamos. Vencido o pendor ascendente, magnífica se transformou a descida com vistas para a formosa Ria de Vigo e a Ilha de S. Simon. Dado o tipo de trilho e da sua verticalidade, dei pernas ao gosto pela corrida na montanha, apesar do “anormal” peso que carregava na mochila. Ao fundo aguardava a já velha conhecida N550!
Surgiu-nos depois Arcade e, um pouco mais à frente, a famigerada ponte “Puente Sampayo”, que faz a passagem sob o rio Verdugo, e onde os espanhóis travaram as invasões francesas.
Entramos então numa extensão prolongada de caraterísticas rurais, com alguma aldeias, muitos campos lavrados e uma das zonas de floresta mais belas e antigas do caminho. Realce para os cruzeiros – outro dos sinais do caminho – tão caraterísticos, apresentando uma iconografia que representa, de um lado, a imagem de Cristo na cruz e, no outro, a imagem de Sua mãe em zelo pelo seu sofrimento.
Passadas algumas paisagens mais urbanizadas, encontramos a Capela de St. Marta. Templo pequeno, singelo e que disponibiliza ao peregrino acolhimento e o carimbo para apor na credencial.
Após mais alguns povoados, entramos em Pontevedra. Depois de nos registrarmos no albergue e tomarmos um banho, bem como o proceder à lavagem de camisolas e meias, empreendemos nova caminhada ao centro da cidade, o qual ainda distava mais de 1 km. Bonito, por sinal.
Eu e o Luís partilhamos uma tábua de “pulpo à feria” e saboreamos a boa cerveja Galega.
No regresso, compramos fruta e eu, como o pulpo não me bastava, ainda fui em busca de mais um petisco, assentando num “tasco” junto ao Albergue, onde comi tortilha e apreciei o excelente vinho das “rias baixas”. Acabei por embrulhar metade da tortilha em pão, preparando assim o almoço do dia seguinte. E que dia seria esse!
O albergue de Pontevedra tinha excelentes condições, dentro do que é a modesta condição destes estabelecimentos, os quais, de uma maneira geral, disponibilizam uma área para cozinhar, outra para lavagem/secagem de roupa, uma sala de convívio e refeição, os banhos e o dormitório, que é comum, organizado em beliches.
Por esse dia, fisicamente estava bem, apenas com algum cansaço na planta dos pés e o início de uma lesão na perna esquerda, na junção com o pé, a qual se agravaria no dia seguinte por descuido meu.
O Luís, apesar das bolhas nos pés, mostrava que as sequelas e padecimentos do primeiro dia haviam sido resultado de condições anormais. Estava ali para chegar ao fim, ao objetivo.
Mas o dia seguinte seria realmente a grande prova!
Andarilhus
XXVI : VII : MMXII