Sexta-feira , 28 de Julho DE 2023

3 – A recaída no Erro: o eterno retorno ao Mal

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Introito

 

Pela floresta humana deambulam, furtivos, dissimulados diabretes. Manhosos, com aparências mascaradas, imitam a luz do sagrado, ostentando semblantes como paredes sem fendas, caiadas com aveludada alvura. Porém, ocultam trevas silvadas, soalhos corroídos por térmitas flageladoras e tetos de gesso negro pela fuligem de braseiros cevados pelo escarro do embuste.

São habilidosos no seu aziago mester, sortindo profuso sucesso no engodo das suas vítimas. Incautos, ingénuos (a ingenuidade a todos desarma perante as técnicas apuradas dos diabretes; somos uns verdadeiros “lorpas”!), acolhemo-los de boa fé, de boa vontade e entregamo-nos plenamente, física e espiritualmente. O infortúnio é ainda maior porque, quando os recebemos, aproveitam para trazer toda a estirpe com eles, desde os grous de penugem branca até aos ovos por eclodir.

Sobre nós, as víboras serpenteiam com as suas peles escamadas, constringindo o que somos e o que sonhamos. Chafurdam, e enleiam com o seu fuçar, até que se revela a “banha da cobra” da sua vil substância e logramos, finalmente, libertar-nos do malfadado feitiço. Depois de tanto acumular - acumular, acumular - incredulidades, depois de tanto tentarmos - tentarmos, tentarmos - encontrar justificação para o imperdoável, irrompe em nós o grito de BASTA!

Verificamos, então, que trouxemos o lobo voraz para o meio do rebanho…

Levantar a guarda! Do outro lado pode estar algo como uma rugosa fraga, um calhau, um calhorda, um chico-esperto, um crápula, uma fraude, um aldrabão de sonhos. Daqueles que ouvem, mas não escutam; que se apercebem dos ERROS, mas fazem de conta que não lhes dizem respeito; que reconhecem os sinais da sua índole ruim, mas que os defendem como se fossem hóstia consagrada.

Pelo caminho com que nos sulcam, espezinham, calculam, engendram, enganam, manipulam, burlam, levando-nos à exaustão da tolerância e ao atiçar dos nossos – os MEUS - próprios demónios cativos! E eis que estes se soltam, feros, rebentando com os tirantes e despedaçando as mordaças com que os retinha no cárcere! Já não os domino, já não os seguro…. Impõe-se a metamorfose. É quando recuamos em defesa, avançamos em contragolpe, desleixamos a compostura, desligamos a sensatez, olvidamos o respeito, perdemos a razão. Perdemo-nos, lastimavelmente… Intratáveis, blindamo-nos em astúcia: para defrontar o lobo, um lobisomem; para afrontar um diabrete, um mafarrico. De presas, erguemo-nos, como competidores entre predadores. Sempre com a prol nos píncaros dos cuidados, entramos em fúria no jogo diabólico. Rompidos os açaimes às nossas próprias energias maléficas, recaímos no ERRO, infelizmente…

Não existe qualquer orgulho ou satisfação neste estado de negação do BEM. Pelo contrário, em paralelo, sentimos a sombra da autocritica e a perceção da nossa postura daninha e indigna com o dom com que a natureza nos honrou. EU penitencio-me por não ter forças para dominar o MAL que irrompe das minhas más reações e dos meus maus pensamentos. Eu não o queria! Afinal, em determinadas fases da vida, sou como os diabretes, desgraçadamente…

Resta-me fazer o mea culpa perante as entidades superioras, as deidades, rogando o perdão por falhar no cumprimento das promessas, e pedindo a correção para rumar com os ventos da abnegação, para alívio do desassossego e a desconstrução da irritabilidade do ERRO.

Que as forças puras do BEM me iluminem nesta obscura encruzilhada de ruins sentimentos, de negativas emoções, de refúgio do MAL…

 

Jorge Pópulo

música: The Sisters of Mercy - Black Planet
publicado por ANDARILHUS às 19:51
Terça-feira , 18 de Julho DE 2023

2 – A redenção ao ERRO: louvar e honrar o Bem

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Introito

Desossados os grilhões de pétalas de ouriço, melosas de fel intoxicante, que nos mantinham em delírio e atiço exasperado, encontramos, enfim, um compasso de paixão, de respeito, connosco, com os outros, para abrandarmos as emoções, os pensamentos, as verborreias, os atos. Deixamos corpo e mente relaxarem e, novamente, mesmo com os olhos cerrados, conseguimos distinguir as claridades da vida, das vivências. Descortinamos o sol a iluminar por entre uma fresca e diáfana bruma, pacífica…

Damos um passo atrás, para fora da nossa armadura; damos um passo à frente, a antecipar a nossa capacidade de interagir sem defesas e couraça. Redefinimos o nosso mundo em graça. Recuperamos a sensibilidade para intuir os milagres da vida com o coração. Reencontramos a beleza nas pequenas coisas do dia a dia e conseguimos proliferar a nossa atenção para os múltiplos, ínfimos, pedacinhos de coexistência que constroem os nossos dias.

Desabafamos as emoções por aqueles que adoramos, enquanto nos damos ao luxo de partilhar tímidos sorrisos, que se intensificam com a consciência da absoluta inimputabilidade moral e ética social, em qualquer cômputo de culpa nos erros, daqueles que de nós dependem e a quem devemos proteção, cuidado e afeto sem limites, e acima da nossa própria existência. Por eles, aceitamos os golpes dos algozes, não partimos, ficamos e acolhemos o destino com humildade e de BOA vontade. Estamos prontos. Desta feita, SIM, abrimos os cordões à bolsa onde guardamos, encasulados, os sentimentos doces, afáveis, do bem querer e do carinho!

Afoito, paira sobre nós o toque de seda quase intangível de sentir, de partilhar, de entregar em cornucópia de felicidade, sem hesitações ou receios, o BEM…. Assalta-nos a impressão de uma experiência próxima do arquétipo de paraíso. Reafirmamos o SIM: sim, redescobrimos a passagem secreta para o dileto paraíso perdido, o recanto dos idílicos momentos, do onírico desejo de ser justo, íntegro e digno! Libertam-se as fragâncias de benfeitoras expetativas, eloquentes presságios de bem-fadados tempos vindouros, alegra-se mais o contentamento e a crença de pousarmos os pés no BOM caminho.

Bem-aventurados todos aqueles que atendem ao chamamento das tréguas e da reconstrução, que defenestram tolhidos e constrangidos medos de se exporem em campo aberto, que, com coragem, sacodem os resquícios da intransigente condição.

Sem nunca esquecer, em reverência e respeito, agradecemos às deidades pelas graças recebidas, pela orientação que nos encaminhou de regresso ao rumo certo, pela luz que nos aqueceu e guiou pelas quelhas do êxodo aos momentos amargos, aos acabrunhamentos do ERRO, aos domínios do Mal.

Desfraldamos as velas para navegar nos mares da harmonia e da virtude próprias do Ser (-se) Humano.

Assim nos ajudem os ventos da concórdia.

 

Jorge Pópulo

música: The Smiths: There's a light that never goes out
publicado por ANDARILHUS às 07:53

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