Os ciclos da (des)construção do Erro: Conclusão.
Nas mutações entre o BEM e o MAL, com granularidades e cambiantes, o Homem afeiçoa-se ao destino e vai cinzelando a sua personalidade, os seus princípios e valores. Vagueia, ondulado, entre a folia e a amargura, procurando um tempero intermédio entre extremos, por forma a garantir os equilíbrios mental, emocional e espiritual suficientes. A ingenuidade genial, umbilical, dá lugar, progressivamente, à experiência acautelada e mesmo calculista. Prudência e habilidade no negócio do trato com os semelhantes. Os embates inter pares forjam a estrutura moral e ética (condicionando-a normalmente para estágios medíocres) em modo de sobrevivência social.
Entre comportamentos e atitudes, mais ou menos corretas (ou incorretas), cada individuo tem a sua consciência do ERRO, a dignidade de o aceitar ou assumir, e a coragem e o pudor de o corrigir, quando falham. Uns são cigarras insolentes que exploram o empenho e dedicação dos que são formigas; outros são formigas e acreditam – “enganadinhos”! – que as cigarras mudarão de vida, passando a uma postura de contribuição para o bem-estar de todos. Temos os Judas que distribuem beijos a tantos quantos possam vender artimanhas, castelos nos céus, saúde de bronze, milagres de algibeira, a troco de umas moedas. Trazer, também, a esta colação de vis exemplos, os sedutores sem escrúpulos (os “pinga-amor”) que prometem sentimento forte e acalorado, cuidados de alma e coração, inestimáveis e perpétuos, carinhos como doces na montra de uma pastelaria, e que entornam toda a carga romântica quando atingem os seus reais objetivos, deixando destroçado, solitário e perdido na vida quem lhe devolveu beijos e abraços. E outros temos, de outra índole e especial aprendizagem e perícia, porque as velhacarias combinadas com ambições desmedidas encontram-se e cruzam-se, em (im)perfeita simbiose, com a bondade entrelaçada à ingenuidade… enfim, renovam-se, em constância, os dilemas da empatia emaranhada entre as “forças” do BEM e do MAL.
No estripar das vísceras do MAL, confirmamos que há essências humanas que são tão previsíveis como o instinto dos seres vivos que compõem o reino animal. Também há aqueles que não escondem que têm “maus fígados”, transtornos psicóticos, tendências sádicas, ou mesmo criminosas. Os mais maliciosos e nocivos são os hipócritas e dissimulados. Desarmam os incautos e ferem sem piedade; cravam as fateixas, rompendo da pele até ao tutano do ser da vítima. Destroçam-na, desanimam-na, “matam-na” em vida.
Para abordar os pergaminhos do BEM, recordamos o conto da tartaruga que, apesar de receosa, ajuda o escorpião a atravessar o rio sobre o seu dorso. Porém, a natureza intrínseca do lacrau obriga-o ao impulso de aferroar a dócil e bondosa companheira, acabando em tragédia, pelo afogamento dos dois. Há pessoas assim, dispostas a arriscar pelo semelhante. E maior é a bondade quando estas sabem e sentem, completamente e previamente, que irão acabar prejudicados e até, eventualmente, sofrer e penar com o BEM que fazem pelos outros.
Como o MAL pode ser a essência, explícita ou encoberta, de alguns, também o BEM é eixo pendular de outros, e assim se vão equilibrando as vivências humanas. Se há tendências para inclinarmos mais para um ou para outro destes extremos matrizes, julgo existir igualmente a generalização de que todos acabamos por percorrer os domínios dos opostos, em momentos diferentes, com maior ou menor profundidade aos seus limites, de acordo com a forma como encaramos e assumimos o ERRO: a sua consciência, a sua redenção e nas recaídas…
Que as deidades nos encaminhem para as condutas e os valores propiciadores para a coexistência digna neste mundo… (des)humano.
Aqui, encerro os portões para a catarse que medita alegoricamente na simbiose entre as recaídas e as reabilitações do ser-se humano, na vida… que narra a (des)contrução do ERRO.
… Que alenta a esperança no ensejo de ressuscitar sem morrer.
Jorge Pópulo
XXV : VII : MMXXIII