Cristão: as encruzilhadas da Fé
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Do promontório de Haifa
Topei a tua chegada…
Ruins ventos enfunaram-vos até Acre.
Descida a maré, os cascos dos cavalos,
Pesados pelas arrogantes armaduras,
Trituraram as areias sagradas…
Ouviram-se cânticos malfadados
De clérigos que desfraldavam
Os pálios alvos, estampados pela cruz.
… aguardavam-se os emissários…
E já a procissão do massacre
Se revelava, zurzindo com ferros e talos,
Ávida pela matança, ignorando as Escrituras….
E tu desencantado, pelas crenças olvidadas
Por homens imorais, inquinados
Nos votos que em honra nada davam
À palavra de Cristo, à sua missão de luz,
Pelo Santo Sudário…
Cristão, Cristão!
A Bíblia balbucia nos lábios do algoz,
Mas não reside no seu coração!
Oca fé, que é uma mera impostura
De gananciosos assaltantes.
A Cruzada é uma serpente, em nós,
Que enleiam assassino e ladrão.
Ávidos por relíquias, para a cura,
Ouro para a usura,
Predam como ordinários meliantes!
Na pureza desalinhada
Tentaste suster o sacrilégio,
Daquelas almas ungidas pelo demo.
Cuspiram-te no rosto,
Surraram-te com chicote, e num amém,
Esporearam mais a ira da cegueira imoral.
Deixaram-te sem sepultura velada
Exangue no ódio tão plebeu como régio.
Com a fé por escudo, nunca nada temo:
Transpus as fileiras do martírio imposto,
Trasladando-te na ida final ao além,
Para santuário da vida temporal.
Cristão, Cristão!
A Bíblia balbucia nos lábios do algoz,
Mas não reside no seu coração!
Oca fé, que é uma mera impostura
De gananciosos assaltantes.
A Cruzada é uma serpente, em nós,
Que enleiam assassino e ladrão.
Ávidos por relíquias, para a cura,
Ouro para a usura,
Predam como ordinários meliantes!
Suturamos as tuas chagas,
Enxotamos as sombras da debilidade.
Orei por ti… ao teu próprio deus…
Até que, como endemoninhado,
Despertaste nas tuas lutas interiores,
Procurando a adaga na cinta,
Vociferando demónios e pragas!
(Disse-te, então)
- “Serena a tua sofrida ferocidade.
O credo não deve ditar aos seus
Amor ou ódio, em dogma ordenado;
A liberdade dos sentimentos maiores
É tela no coração que a bondade pinta…”
Com sorrisos, compreendeste,
E saudaste o prescrito inimigo.
Teus olhos cintilaram
Como estrelas a ruborescer;
As cartilhas rasgaram-se em fendas
Por onde o Mundo alvoreceu!
(Disseste-me, então)
- “A sabedoria existe em ti, sarraceno!
Caem falsos anjos do divino castigo
Para a paz com tolerância crescer.
Pelos lugares ou sendas
Em que passar, jurarei pelo céu
Que sob o turbante também vive um nazareno!”
[Porque todos os opostos devem ter a liberdade de construir pontes sobre impostos precipícios...]
Jorge Pópulo
IX : X : MMXXIV