Caelus

No meu céu… uma só estrela, de noite e de dia.

 

Respiro. Respiro o ar empertigado da nova aurora. É quente, é doce, doce carícia no rosto ainda pálido do recém desperto. O SOL, resoluto, perdoa este decano foragido e abraça-o no seu calor paternal. O regresso do filho pródigo…

Activo os sentidos após longos anos de falta de manutenção sensorial. O Mundo regressa ao corpo e à mente. Estamos agora ligados e em emissão experimental. As memórias anteriores ao buraco negro aguardam para serem estimuladas e carregadas, com a sua sapiência, calçando-me para os ventos e demandas que início.

Não estou só! Pelo CéU da minha aventura sigo a companhia da minha boa ESTRELA. A Predilecta!

Aprecio o ondulado prateado do seu corpo celeste, passo vezes sem conta pelas suas pontas macias, sou tomado pela fragrância dos fios negros mas cintilantes dos seus cabelos de luz. Desenho na razão os seus movimentos e deambulações pelo firmamento. Quantas constelações perfaz, aqui e ali! Inebria-me a sua contemplação: No meu CéU de homem, uma só LUZ. Luz forte que me ilumina o gosto pelos dias e me conduz à inconformidade ateia de interrogação aos credos pretensiosos e dominadores do status quo. Corro por fora da Via Láctea…

Ainda mal acordado, procuro regatear ao destino anos-luz do meu futuro, ofereço-me para eterno companheiro do meu astro, faço quadros e projecções, mas alguma prudência é devida para evitar o avanço da desilusão e da angústia.

Observo, atento, a minha boa ESTRELA, na vontade de colher toda a sua essência cósmica, para que a possa entender. Rogo para que não me ofusque para, depois, me deixar em luz trémula… sou jovem na força, falta-me ainda o arcaboiço suficiente para matizar entre as baixas e altas marés da sua inconstância. Não permita ela, mesmo por instantes marginais, que o meu CéU se tinja de breu absoluto.

 

A vida é uma andança. Uma andança que pode ser um risco solitário ou em companhia. As caminhadas, tal como a vida, são uma andança com as mesmas propriedades. A eventualidade de chegarmos à fadiga, à dor, ao perigo de agruras físicas ou outras, são motivos suficientes para nos apartarem do risco, da aventura, da vontade?

XIV VI MMVI

Andarilhus “(º0º)”

música: Earth, Sun, Moon: Love And Rockets
publicado por ANDARILHUS às 17:59