Morte sem sinal II
http://www.cinemacomrapadura.com.br/blog/wp-content/uploads/2008/02/morte.jpg O caixão estava prestes a ser chumbado. Olharam todos de soslaio e desviaram o olhar. Era grosseiro, era uma grande tempestade a engolir o Sol. E agora? O mais teso de racionalidade levantou-se: - “Aqui ninguém toca, sou eu que levo a nossa querida! Paciência… chega a hora de todos. Lá nos havemos de desembaraçar sem a sua orientação…” Mas, e agora? Tantos, órfãos de saber e de sentir. Inúmeros carentes e sós de companhia e carinho. Mas, como? - “Ajudem-me, digam-me: ainda há um mundo lá fora?! Quem o viu ultimamente? Digam-me, há???... O que vai ser de todos nós…” Desapareceu no meio de tantos mundos como o nosso… Dedicado a todos os “irmãos” que cresceram e crescem em frente à televisão. Uns mais outros menos, medram na realidade dos outros e vêm pela janela os dias a passar, sem conhecerem, sequer, os rudimentos da vida. Andarilhus
Acaba por chegar o momento em que é preciso levantar a cabeça, de procurar outros quotidianos, outras artes, outros ícones. Atender a novos estímulos de vida. Arriscar as calçadas da cidade.
Alcançado o derradeiro minuto, respirado já sobre a intensidade da dor e da saudade, o funcionário camarário pegou cruelmente no caixão daquele corpo já sem luz e tom, já sem som e palavra. Tão escuro e pesado…
Pegou na televisão avariada e atirou-a para o camião.
IX : V : MMVIII