As Trovas da Derrota
http://nacht-verdunkeln.blogspot.com/2010/01/reflexoes-sobre-o-tempo.html
Se me prostrei pelo favor de Deus
Se me vendi pelo ardil do Diabo,
Se, com tamanhos patronos,
Não consegui tocar a tecla que te faz agitar
Na cerca que te afasta,
No conforto que te atrofia,
Deixo-me, por aqui, embrulhado
Em novelos de memórias
Que, de labaredas se fazem cinzas
Sonolentas, sentadas em paragens
Aguardando pelos ventos da partida.
Esta não será uma canção de tristeza;
Esta é uma trova de anúncio
Da derrota,
Na inanição, na acção
Quieta de pensar que mexi e remexi
Todos os cordelinhos, mas não alcancei
Como, contigo,
Se faz o nó.
Liga-se o dia, desliga-se a noite,
Reencontra-se o amanhecer
Sempre na mesma hora, no mesmo sito,
Na semelhança repetitiva do tipo e da forma.
Já nem parece mais do mesmo,
Já nem parece, apenas acontece…
Soterrou-se a defesa abaixo da paliçada
Das palavras, da conversa, dos concílios ocos.
Entregou-se o campo dos lugares comuns
Para domínio dos vencedores,
Aperto-me a um canto onde não perturbe
Enquanto espero na paragem
Pelos ventos da mudança.
Esta não será uma canção de tristeza;
Esta é uma trova de acolhimento
Da derrota,
Na inanição, na sujeição
Quieta de pensar que abri, fechei
A sepultura, mas não alcancei
Como, contigo,
Se vive ou se morre.
Estalou a capela onde
Tantas vezes
O empenho tentou ganhar o altar,
Devoto a prometida tão elevada,
Cuja fragrância se conheceu,
Pelos breves trechos
Em que desceu ao lugar de apóstolo,
À consciência do outro.
Mesmo o Santo,
Que não respire o odor do(a) ca-fé
Na sua morada
Sucumbe à Íntima vontade de aceitar
Um “sim-(que)-vale-hino”
De quente conversa e sermão com os peixinhos
… Que se chegam à barca, porque
Esta não é uma canção de tristeza;
Esta é uma trova de paixão
Pela derrota,
Na esperança, na calma
Sóbria de pensar que coberto ou nu
De crença, sempre me ergui
Quando, comigo,
Me confrontei.
Esta não é uma trova… é um fado.
Andarilhus
XIV : X : MMX