Bem me parecia que o Ramsés II não era flor que se cheirasse! E é interessante a ideia de Passagem... principalmente depois de ter lido, ainda ontem, que a passagem - caminhada - de Cristo, sobre o Mar da Galileia, tinha sucedido graças a um fenómeno natural... Pois Ele tinha passado, isso sim, sobre uma camada de gelo, ligeiramente submersa pela água salgada...
Mas não deixou de fazer uma caminhada, proceder a uma passagem e, mais ainda, fazer com que outros fizessem, também eles, uma espécie de transposição mental, psicológica, para outro nível! Por falar nisso, em que nível estarei eu? Estaremos nós? Se é que estamos em algum...
Será que caminhar, com a envolvência da mãe natureza, nos permite realmente redimir dos "pecados" e tentações impostos pelo Homem, como sugeres, Andarilhus? ou permite-nos, apenas, um desligar temporário, um refrescar (F5), um repôr baterias, um "I'll be back"?
E não será isso mesmo suficiente?
Se não, porquê caminhar?
JJJOTA a 31 de Agosto de 2006 às 16:28
… Sim, apesar de, certamente, se lavar copiosamente no Nilo!
Cristo liderou uma facção de “caminheiros” unidos num interesse comum (crença): os trilhos do humanismo, solidariedade e humildade. Independentemente da nossa profissão de fé, são cristalinas como o gelo - que eLE supostamente galgou na Galileia - a mensagem e o exemplo que sobreviveram à sua passagem pelos povos de então e de hoje.
Para mim, o entendimento do modelo é simples mas muito difícil de concretizar, porque não nos permitimos tempo para a aplicar: a exaltação da vida pelo comprometimento total e sem interesse do Bem que cada ser humano tem, na sua projecção e difusão em prol dos seus semelhantes! Complexo?! Só na transposição de que falas, caro 3Jotas… Fomos conduzidos até à entrada da passagem, mas continuamos a aguardar quem nos lidere pelo percurso… O clero tentou, mas não se resignou aos ensinamentos com que queria tecer a lã do rebanho…
É nesse nível que estamos. Sabemos o que devemos fazer, temos razão para o conceber, mas não avançamos porque é mais fácil deixar correr o conformismo guloso e porque temos medo… Temos medo de mostrar um sorriso, prestar atenção, transmitir um carinho ou uma lisonja. Temos medo de nos preocupar pelos outros!
Não sei se será por influência superior da mãe natureza, todavia, estas barreiras que embargam e tolhem a alma no nosso dia-a-dia, esbatem-se – pelo menos um pouco – quando partimos em grupo para uma caminhada. É patente que a amizade, a tolerância e a solidariedade reinam entre os confrades participantes. JJJota… tens de experimentar, talvez venhas a caminhar sobre o gelo!... Abraço.
Isso de impedir que os Hebreus de chegarem à Terra Prometida não se faz! Mas, Moisés mostrou ao mundo, de então, a determinação e o acreditar numa causa são factores determinantes para mudar o rumo da história da humanidade. Acreditou, venceu! Caminhou, alcançou a Terra Prometida! Grande caminheiro este!
Já agora...a menina que vai à frente na foto...o que vai a procurar no chão????
Hoje, dia profano, antecedente do sANTO, é dia de recolher todos os desideratos e pesos acumulados durante a semana porque amanhã é dia de purificação… é dia de CAMINHADA. O PAR DE BOTAS faz-se ao caminho por sendas do SOAJO (Arcos de Valdevez). Mais pormenores aqui:
http://umpardebotas.blogs.sapo.pt/.
O nervoso miudinho já interfere no curso sanguíneo. Eis que nos aproximamos de nova passagem! A renovação exige, de facto, determinação, Avelã(zinha)! Assumamos as vestes de viagem, juntemos os nossos haveres mais queridos e partamos… Para trás, fica tudo aquilo que nos prende à terra (excepto o carro, que nos leva até ao pórtico do corredor desejado!). A mãe natureza providenciará tudo o resto… a nós cabe-nos iniciar, viver e encerrar o ciclo. A pessoa que vai à frente (na foto) procura, talvez, um reflexo de si própria.
Música do dia: “Love Me To Death” dos The Mission (God’s Own Medicine), em favor dAQULE que expirou sobre o madeiro que talhou, e em celebração a quem afeiçoa o lenho do meu coração… “(º0º)”
Bom dia!
Avêla(zinha),vou comentar a tua pergunta à minha luz!
O facto da menina da foto ir a olhar para o chão,pode não significar busca,mas já ENCONTRO!(Bj Colina P'ana)
Sempre que caminho,encontro-me no momento da passada "sentida"!O olhar para o trilho a palmilhar,leva-nosjá ao plano do encontro;onde passadas dadas são orientadas pelas coordenadas do nosso interior.
Quando nos fixamos no "chão"...que pode tão bem ser o palco da nossa vida,pode ser na busca de orientação;ou apenas um seguir de pontos semi-traçados.Um simples olhar,o desprendimento da "materia",eleva-nos o espírito e os sonhos são guias.Na última caminhada UPB,descrevi a um caminheiro amigo:"a paisagem do Montemuro,dá-te a sensação de um céu aberto, e tu ainda com o pé na terra".É esse o trilho,a elevação do EU,e o encontro a cada caminhada,pelo menos...sabem agora porquê caminhar?
Flor a 31 de Agosto de 2006 às 16:44
Bom dia!
Avelã(zinha) a menina que vai à frente na foto, não procura nada específico, só a tranquilidade que a alma necessita, depois de dias de trabalho por vezes árduo, e nada melhor que a neve para ajudar!
Flôr bj também para ti!
Afinal, porquê caminhar? Eis a pergunta que se impõe.
Caminho... não só para fazer o tal "refresh" que alguém falou (JJJota), para conviver com pessoas que partilham o mesmo gosto ,para disfrutar da beleza, que a sempre atenta, Mãe Natureza, nos proporciona. Caminho...por vezes a custo nas subidas mais íngremes, mas é reconfortante ouvir o som do silêncio no cume de uma montanha!...
Colina Pl'Ana a 31 de Agosto de 2006 às 16:47
…E o deserto acorda a cada dia sempre mais fértil e pejado de mentes inconformadas… Alegro-me por ter tão ilustres interlocutores. Bem Hajam! Quando caminho, aquela “vox” interna toca o REUNIR, para o REENCONTRO das partes que constituem a nossa unidade (julgo que é disto que fala a Flor, certo?). E então começa aquilo que em informática se designa de “desfragmentador”, ou seja, os pedaços das nossas vivências, desgarrados e dispersos por todo o território do nosso SER são conjugados, “formatados” e processados de modo a darem consistência à unidade. O puzzle assim obtido e já enquadrado revela então, com maior ou menor nitidez, a nossa essência. Recuperamos a força para evocar e revelar aos outros quem realmente somos… Fomos reciclados de volta à nossa entidade primordial. O processo pode ser exigente, e contemplar as subidas íngremes da Colina Pl’Ana, mas é recompensador pela renovação da passagem… Faço um interregno neste espaço. Aguardo por novas participações… BOA PÁSCOA para todos e mais um… Procurem-se neste período de travessia.
Andarilhus
Andarilhus a 31 de Agosto de 2006 às 16:52
Na sequência de palavras escritas para o nosso Andarilhus ,e sugerido pelo mesmo,passo a transcrever parte.Um partilhar de "sentido de caminhada":
"É o olhar simples,o gesto atento que tantas vezes falta...e não a cor
que se dá.
Vais numa caminhada,e olhas ao lado alguem que não conheces...
Com um sorriso,fica o cartão de visita e surgem pequenas frases tal
como:"Dás-me a agua da mochila,por favor"
Estica-se a mão,abre-se o sorriso até então apenas esboçado.
E assim,mais uma gota,nesta terra árida duma correria atordoada,onde
olhar para o lado muita das vezes já não existe.
Todos na mesma direcção e sentidos talvez diferentes.
Vontade de respirar,de ser um simples EU,onde a condição estar Vivo é a
principal das dádivas !
O som dos pássaros a água a correr,são tantas vezes as conversas que
ouvimos para coisas onde as palavras pouco significam.
E porquê?
Porque esta vida assim o faz!
Ser só,lutar e ser o projectista,tem em paralelo com a força individual a solidão que te afasta.
Mundos de um mundo,onde caminhar a cada momento é necessário para que as
marcas fiquem para quem ao nosso lado queira seguir."
Flor a 31 de Agosto de 2006 às 16:53
Aos 18 dias de Abril do ano 6, após a volta do milénio, regressamos ao hábito. No entanto regressamos renovados! Agora há que manter e prolongar a aura energética acumulada.
Pois pedi à Flor que divulgasse o trecho acima porque me pareceu de uma simplicidade e intuição perfeitos na descrição do que poderemos chamar de “a caminhada paralela”. Esta caminhada interior, que acompanha a congénere física, é de tal forma célere que tem ainda tempo para atravessar os campos do pensamento e dos sentimentos. De acordo com o espírito que a guia, pode correr desvairada e terrível e obrigar à aceleração da empreitada do corpo, como pode também ser melancólica e apaziguada, promotora da exaltação dos sentidos e absorção cuidada e lenta das maravilhas dos espaços que nos acolhem. Todas as mutações emocionais que transportamos cambiam, transformam-se ao ritmo dos passos íntimos e da sua partilha, directa ou dissimulada em fábulas de momento, com aqueles que nos acompanham por pedras e fragas e, sem saberem, nos seguem também por percursos labirínticos do nosso SER e nos ajudam, com a voluntariedade do ingénuo, nas nossas guerras com os Minotauros que investem contra os nossos contrafortes. Julgo que estas experiências são genéricas a todos os caminheiros. Acontecendo porém que há aqueles que já se debruçaram sobre estes assuntos, outros, para quem, a situação é tão natural que nem pensam, vivem-na, e outros ainda que, porque não se interessam ou porque se “distraem”, não dão a menor importância ou conhecimento ao caso. Cada um revela-se da forma que considera ser a mais adequada… Assim seja!
Para os inconformados e não submissos à acomodação, a música do dia: “Deshacer el Mundo”, dos Heroes de Silencio (Avalancha, 1995).