Conciliar os ventos cruzados
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Vejo-te
Emaranhada na penumbra.
Quero puxar-te
Para onde te escute
E te observe profundamente,
Para onde te possa sentir respirar.
Deixas-me suspenso,
Num efervescente vento.
Só te contemplo ao longe
Pareces derivar em afastar…
E no rodar, vais mostrando as dores,
Os espinhos, que não queres desenraizar.
… Achega-te, mesmo que fira as mãos
No arrancar dos cardos que te vão trajando!
… Deixa-me achegar, mesmo que esfacele os dedos
No escavar dos vidros quebrados que te vão tumulando!
Serão menores os flagelos ensanguentados
Do que esta angústia de espera
Preso no tempo, preso no vento…
Aqui contigo, aqui sem ti
Com tudo ao alcance dos braços,
Sem nada que abrace,
Não sei se vivo ou sigo em mortalha…
E, enquanto esvoaço,
Como pardal caído do seu beiral,
Chilreio por ti…
… baixinho, para não te ferir
Nos teus silêncios.
Confesso que já se me cansam as asas,
Confuso, sem saber onde pousar.
Mas resisto, e assim continuarei!
Acredito, confiante, na pequena centelha
Que acende o arco-íris após cada tormenta.
Anseio que destapes o teu céu
Para o pintar de múltiplas cores!
Dá-me luz, dá-me ânimo
E tingirei as sombras do teu coração
Com os pigmentos da felicidade!
A atenção, o carinho,
Afugentados outrora,
Por semelhante desatenção,
Pela mesma dita indiferença,
Regressam, repatriados.
Façamos o percurso inverso
De encontro ao ponto de onde,
Em sorriso entrelaçado,
Partimos para a nossa odisseia.
Vejo-te ainda emaranhada
Mas peço-te que amaines os ventos
Dá um passo para fora de ti,
Para fora da penumbra.
Reconstruamos o beiral,
Onde possamos poisar
E retomar a composição de uma vida…
Andarilhus
X : VII : MMXV