Cristão: as encruzilhadas da Fé

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada

 

 

Do promontório de Haifa

Topei a tua chegada…

Ruins ventos enfunaram-vos até Acre.

Descida a maré, os cascos dos cavalos,

Pesados pelas arrogantes armaduras,

Trituraram as areias sagradas…

Ouviram-se cânticos malfadados

De clérigos que desfraldavam

Os pálios alvos, estampados pela cruz.

… aguardavam-se os emissários…

 E já a procissão do massacre

Se revelava, zurzindo com ferros e talos,

Ávida pela matança, ignorando as Escrituras….

E tu desencantado, pelas crenças olvidadas

Por homens imorais, inquinados

Nos votos que em honra nada davam

À palavra de Cristo, à sua missão de luz,

Pelo Santo Sudário…

 

Cristão, Cristão!

A Bíblia balbucia nos lábios do algoz,

Mas não reside no seu coração!

Oca fé, que é uma mera impostura

De gananciosos assaltantes.

A Cruzada é uma serpente, em nós,

Que enleiam assassino e ladrão.

Ávidos por relíquias, para a cura,

Ouro para a usura,

Predam como ordinários meliantes!

 

Na pureza desalinhada

Tentaste suster o sacrilégio,

Daquelas almas ungidas pelo demo.

Cuspiram-te no rosto,

Surraram-te com chicote, e num amém,

Esporearam mais a ira da cegueira imoral.

Deixaram-te sem sepultura velada

Exangue no ódio tão plebeu como régio.

Com a fé por escudo, nunca nada temo:

Transpus as fileiras do martírio imposto,

Trasladando-te na ida final ao além,

Para santuário da vida temporal.

 

Cristão, Cristão!

A Bíblia balbucia nos lábios do algoz,

Mas não reside no seu coração!

Oca fé, que é uma mera impostura

De gananciosos assaltantes.

A Cruzada é uma serpente, em nós,

Que enleiam assassino e ladrão.

Ávidos por relíquias, para a cura,

Ouro para a usura,

Predam como ordinários meliantes!

 

Suturamos as tuas chagas,

Enxotamos as sombras da debilidade.

Orei por ti… ao teu próprio deus…

Até que, como endemoninhado,

Despertaste nas tuas lutas interiores,

Procurando a adaga na cinta,

Vociferando demónios e pragas!

(Disse-te, então)

- “Serena a tua sofrida ferocidade.

O credo não deve ditar aos seus

Amor ou ódio, em dogma ordenado;

A liberdade dos sentimentos maiores

É tela no coração que a bondade pinta…”

 

Com sorrisos, compreendeste,

E saudaste o prescrito inimigo.

Teus olhos cintilaram

Como estrelas a ruborescer;

As cartilhas rasgaram-se em fendas

Por onde o Mundo alvoreceu!

(Disseste-me, então)

- “A sabedoria existe em ti, sarraceno!

Caem falsos anjos do divino castigo

Para a paz com tolerância crescer.

Pelos lugares ou sendas

Em que passar, jurarei pelo céu

Que sob o turbante também vive um nazareno!”

 

[Porque todos os opostos devem ter a liberdade de construir pontes sobre impostos precipícios...]

 

Jorge Pópulo

IX : X : MMXXIV

 

publicado por ANDARILHUS às 07:12