Mouro: os mistérios da Fé
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Do alcantilado,
Pelo quarto-crescente,
Vigiei a tua chegada.
Cingias o Profeta no coração;
Oravas no tanger dos lábios.
Mas, estava latente…
Pouco entrara a Corão
Pelo solo Al-Andaluz
E logo em ti a alegria mirrou:
Com o amordaçar dos sábios
Topaste a corrupção dos fiéis.
A cimitarra, desgovernada, acirrou
Com vil fanatismo sobre
Quem se protegia atrás da Cruz,
Espoliando-os de dedos e anéis…
Sarraceno! sarraceno!
O vento ímpio desfia o turbante
Em trapos de sacrilégio,
O veneno inquina as veias
Dos filhos do Levante!
Aboliram Deus e poder régio,
Escarraram o joio
Pelos rebentos de trigo
Nos sagrados campos da Ibéria.
Secou o charco e o arroio
No verde e secular abrigo,
Erodido em pó pela miséria.
Depressa
Afrontaste o Mal,
Os estandartes sem honra,
Os impróprios chacais
Sedentos pelo mosto da vida…
Loucos pela soberba fúria
Tombaram-te como inimigo
Junto aos portões da morte…
De longe, vi o cenário infernal
E não vacilei na dignidade da lida:
Puxei-te da cova que se fechava contigo;
Sussurrou-me o Bem desígnio
Para a tua infortuna sorte.
Resgatei do campo da lamúria
Teu corpo e alma, já em extermínio.
Sarraceno! sarraceno!
O vento ímpio desfia o turbante
Em trapos de sacrilégio,
O veneno inquina as veias
Dos filhos do Levante!
Aboliram Deus e poder régio,
Escarraram o joio
Pelos rebentos de trigo
Nos sagrados campos da Ibéria.
Secou o charco e o arroio
No verde e secular abrigo,
Erodido em pó pela miséria.
Incrédulo
Reanimaste no covil da aversão,
Emaranhado de emoções
Confuso de pensamentos…
Foi quando de mim escutaste:
“Não te sintas ovelha em gruta de leão.
Somos braços de opostas legiões,
Fiéis a ritos de singulares panejamentos
Mas, somos iguais aos olhos de Deus,
O Único, ao Qual oramos
Designando-O por distintos nomes.
Recolhi-te como adversário
Tratei-te como condiscípulo
Deixo-te, agora, partir como amigo.
Se assim o quiseres…”
Compreendeste.
Teus olhos cintilaram
Como estrelas a ruborescer;
Os dogmas racharam em fendas
Por onde entrou a luz!
“A sabedoria existe em ti, Cristão,
E as virtudes divinas se elevaram
Para a paz tolerante nascer.
Pelos lugares ou sendas
Em que passar, farei jus
À ímpar sina de te ter por irmão!”
Sarraceno! sarraceno!
O vento ímpio desfia o turbante
Em trapos de sacrilégio,
O veneno inquina as veias
Dos filhos do Levante!
Aboliram Deus e poder régio,
Escarraram o joio
Pelos rebentos de trigo
Nos sagrados campos da Ibéria.
Secou o charco e o arroio
No verde e secular abrigo,
Erodido em pó pela miséria.
Descansa
Por ora
No sonho do abraço da areia candente da pátria…
[Porque todos os opostos podem encontrar o ponto da concórdia...]
Jorge Pópulo
V : VI : MMXXIV