Mouro: os mistérios da Fé

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https://www.infopedia.pt/artigos/$invasao-da-peninsula-iberica-pelos-arabes

 

Do alcantilado,

Pelo quarto-crescente,

Vigiei a tua chegada.

Cingias o Profeta no coração;

Oravas no tanger dos lábios.

Mas, estava latente…

Pouco entrara a Corão

Pelo solo Al-Andaluz

E logo em ti a alegria mirrou:

Com o amordaçar dos sábios

Topaste a corrupção dos fiéis.

A cimitarra, desgovernada, acirrou

Com vil fanatismo sobre

Quem se protegia atrás da Cruz,

Espoliando-os de dedos e anéis…

 

Sarraceno! sarraceno!

O vento ímpio desfia o turbante

Em trapos de sacrilégio,

O veneno inquina as veias

Dos filhos do Levante!

Aboliram Deus e poder régio,

Escarraram o joio

Pelos rebentos de trigo

Nos sagrados campos da Ibéria.

Secou o charco e o arroio

No verde e secular abrigo,

Erodido em pó pela miséria.

 

Depressa

Afrontaste o Mal,

Os estandartes sem honra,

Os impróprios chacais

Sedentos pelo mosto da vida…

Loucos pela soberba fúria

Tombaram-te como inimigo

Junto aos portões da morte…

De longe, vi o cenário infernal

E não vacilei na dignidade da lida:

Puxei-te da cova que se fechava contigo;

Sussurrou-me o Bem desígnio

Para a tua infortuna sorte.

Resgatei do campo da lamúria

Teu corpo e alma, já em extermínio.

 

Sarraceno! sarraceno!

O vento ímpio desfia o turbante

Em trapos de sacrilégio,

O veneno inquina as veias

Dos filhos do Levante!

Aboliram Deus e poder régio,

Escarraram o joio

Pelos rebentos de trigo

Nos sagrados campos da Ibéria.

Secou o charco e o arroio

No verde e secular abrigo,

Erodido em pó pela miséria.

 

Incrédulo

Reanimaste no covil da aversão,

Emaranhado de emoções

Confuso de pensamentos…

Foi quando de mim escutaste:

“Não te sintas ovelha em gruta de leão.

Somos braços de opostas legiões,

Fiéis a ritos de singulares panejamentos

Mas, somos iguais aos olhos de Deus,

O Único, ao Qual oramos

Designando-O por distintos nomes.

Recolhi-te como adversário

Tratei-te como condiscípulo

Deixo-te, agora, partir como amigo.

Se assim o quiseres…”

 

Compreendeste.

Teus olhos cintilaram

Como estrelas a ruborescer;

Os dogmas racharam em fendas

Por onde entrou a luz!

“A sabedoria existe em ti, Cristão,

E as virtudes divinas se elevaram

Para a paz tolerante nascer.

Pelos lugares ou sendas

Em que passar, farei jus

À ímpar sina de te ter por irmão!”

 

Sarraceno! sarraceno!

O vento ímpio desfia o turbante

Em trapos de sacrilégio,

O veneno inquina as veias

Dos filhos do Levante!

Aboliram Deus e poder régio,

Escarraram o joio

Pelos rebentos de trigo

Nos sagrados campos da Ibéria.

Secou o charco e o arroio

No verde e secular abrigo,

Erodido em pó pela miséria.

 

Descansa

Por ora

No sonho do abraço da areia candente da pátria…

 

[Porque todos os opostos podem encontrar o ponto da concórdia...]

 

Jorge Pópulo

V : VI : MMXXIV

publicado por ANDARILHUS às 19:26